Segunda-feira, 4 de Junho de 2012

O Wiriamu da Frelimo (Zeca Caliate) - 2

MASSACRE DE WIRIAMU E LUCAMBA

 

Quando em 1973 comandava o 4º Sector, determinei a criação do 8º
destacamento e nomeei Raimundo Dalepa como comandante daquela base situada à
beira do rio Luenha e próximo da aldeia do Wiriamu, os guerrilheiros iniciaram
ações de emboscadas e minas ao longo da estrada internacional, que ligava Tete
a Changara e Rodésia do sul.

Na aldeia de Wiriamu, havia um núcleo de apoiantes da FRELIMO
que forneciam alimentos e informações aos guerrilheiros, o que viria a provocar
ira por parte do exército português que para ali enviou tropas que se vingaram
da morte de camaradas que ali tinham sido mortos numa emboscada.

A FRELIMO e seus apoiantes, especialmente organizações religiosas
chamados de padres de Burgos, espalharam a noticia para todo o mundo, quando em
Julho do mesmo ano deixo a FRELIMO, cruzavam-se informações nos jornais, rádios
e praças de Londres, Roma e outras capitais das grandes cidades europeias e
também nas Nações Unidas, só se falava do massacre de Wiriamu condenando assim
Portugal na perpetração de tal massacre aos civis do Wiriamu. Foi na realidade
um massacre evitável pois embora houvesse apoiantes e informadores da Frelimo,
a maioria da população era inocente. 

Passaram alguns meses do massacre de Wiriamu, seguiu-se outro
massacre com a mesma dimensão este no inicio de 1974, mas desta vez não foi
perpetrado pelo exército português, mas sim pela FRELIMO, no aldeamento de
Lucamba a poucos quilómetros de Wiriamu. Não sei porque é que a FRELIMO teve
tal ação. Vingança?!

Curioso é que a FRELIMO com o António Hama Tai a comandar o
sector, concentrou o armamento, desde canhões B10 sem recuo, morteiros 82 e 60 mm, PRG Bazucas, varias
metralhadoras pesadas de grandes e pequenos calibres, armas automáticas e
semi-automáticas entre o mais variado material bélico. Com um grande efectivo
de combatentes, cercaram aquele aldeamento de Lucamba habitado por centenas de
populações indefesas, onde apenas existia um posto de meia dúzia de OPVDC
(Organização Provincial de voluntários e defesa civil) a 300 metros, estando os
mesmos mal armados, somente com uma G3 do comandante e os restantes elementos
com Mauseres.

Logo com o 1º tiro de canhão os OPVDC puseram-se em fuga para o
meio do mato. A FRELIMO apoderou-se do aldeamento e chacinou toda a gente,
inclusive velhos, velhas e crianças, sendo eles assassinados com armas de fogo com
baionetas e à catanada. Foi outro Wiriamu de sinal contrário.

No dia seguinte podiam ver-se corpos espalhados em todos os
lados, quanto a isto não foi ninguém que me contou eu pessoalmente estive
naquele local, porque quando abandonei a FRELIMO, estive ligado à ação
psicológica em Tete e fui convidado para ir verificar o que se tinha passado na
noite anterior, fiquei perplexo e sem palavras para descrever aquela
barbaridade. Até hoje aguardo que alguém dos defensores dos direitos humanos ou
de alguma associação religiosa, condene aquele ato que até hoje parece
permanecer esquecido da memória dessas mesmas associações e congregações
religiosas. Eram tão Moçambicanos uns como os outros, as organizações e
governos internacionais não falaram também de Lucamba, porquê? Dois pesos duas
medidas.

Pergunto-me agora eu, qual é a diferença entre os dois povos,
nomeadamente o povo de Wiriamu e o povo de Lucamba, ambos massacrados, do qual
o povo de Wiriamu mereceu especial atenção, difusão de informação e comentários
vindos de todos os lados bem como o apoio de toda a comunidade internacional e
do qual Lucamba foi esquecido e negado apoio, aliás dai em diante o meu
sucessor António Hama Tai intensificou assaltos aos civis que se atreviam a
circular nas estradas principais de Tete bem como aos cantineiros que
posteriormente eram assassinados. Não podemos esquecer a revolta da população
branca da Beira em Janeiro de 1974 contra o exército Português, devido ao
assassínio de uma fazendeira. Contra quem deveria ser a revolta? Naturalmente
não sabiam, mas haveria um culpado ou culpados. Tirem conclusões.

Faço a pergunta: DOIS POVOS, UM DE DEUS (Wiriamu) E OUTRO DO
DIABO (Lucamba).

 

04 de Junho de 2012

 

Alvaro Teixeira (GE) 

 

 

 

 


Publicado por gruposespeciais às 16:32
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6 COMENTÁRIOS:
De Filipa Fernandes a 30 de Julho de 2012 às 00:06
Sr. Albano Lobo, depois do que li no se comentário, o depoimento do sr Zeca nada acrescenta ao que o Sr Inácio Passos escreveu. É natural que ele tenha recebido essas informações por parte de quem emboscou, terem existido mortos na 6ª Companhia de Comandos, na qual eu tinha 3 amigos, pois era uma companhia formada por elementos Moçambicanos. Sei que foram emboscados, houve pelo menos feridos graves, um dos meus amigos era furriel, ainda quis seguir quem emboscou com um grupo mas não foi autorizado. Soube que estiveram em Wiriamu. Já em Portugal um deles , disse-me que nem de perto nem de longe houveram tantos mortos. Não sei , não estive lá. Quanto ao ser longe o local da emboscada em relação à aldeia, em África o longe é perto. Quanto ao sr Zeca ter contado outra versão, é natural, tinha acabado de se entregar...
Quanto a haver população ou até guerrilheiros entre a população era naturalíssimo, mesmo que nessa altura o Sr Zeca tivesse dito que não, penso eu, pois estou a imaginar. Porque atacaram Wiriamu? quem decidiu lá teria as suas informações. Em relação aos dois massacres, não me lembro de ter ouvido falar do último, mas se ele diz foi de certeza falado pela imprensa em Moçambique. Ele não iria ter coragem de inventar, pois é fácil ir buscar isso aos jornais da época. Basta ir à Biblioteca Nacional, ou outra para encontrar isso. Agora que não foi conhecido a nível internacional, não foi. Foi para consumo interno. Foram mesmo dois pesos duas medidas. O sr Inácio Passos em relação àquilo que escreveu, praticamente disse tudo. Em relação ao sr. Zeca, só uma comparação e talvez omissões em relação as militares portugueses quando se entregou. Vamo-nos por no lugar dele.Não sei o que ele contou, mas por aquilo que escreveu, pouco ou nada, não sei o que teria contado...

Filipa Fernandes.


De António Carlos a 30 de Julho de 2012 às 22:42
Cara Filipa Fernandes,
A compª Cmds não teve nenhuma baixa mortal nem na operação "Marosca" nem na ocasião em que um grupo de combate regressou ao local para enterrar os mortos, (20 dias depois aprox.). Esta companhia só teve 1 morto em data e local diverso, não tenha dúvidas. A operação marosca não está explicada na totalidade pelo Sr.Passos, ainda que ele tenha ficado perto sem dúvida. Ele aponta apenas o cantineiro raúl, hoje destacada figura em Moçambique, mas há mais, muito mais, quer da Frelimo quer, desgraçadamente, do exército português. Tenho nomes que por motivos óbvios não refiro aqui porque não são ciência, o que quer dizer que são informações cruzadas em mais que 5 fontes, mas não documentadas. A Marosca inseriu-se na estratégia da Frelimo de propaganda. Após a "Nó Górdio" a Frelimo percebeu que tinha de partir para a pressão internacional. A guerra estava circunscrita a regiões especificas em Cabo Delgado e no Niassa, de onde a Frelimo não conseguia sair. COm a construção de Cahora Bassa deu-se o pretexto ideal para a propaganda amiga. A barragem foi uma obra notável, mas com o problema de se realizada fora de tempo, porque ali a visibilidade internacional tornou-se enorme. Como evidentemente, a Frelimo não tinha força para se implantar em Tete, e depois em Manica e depois em Sofala, penetrou aqui e ali, e com pequenos núcleos conseguia dizer que estava em todo o lado, na realidade não controlando nenhum., A par desta estratégia iniciou-se a propaganda. Ora é aqui que entra Wiriyamu, a propaganda sobre um acontecimento de guerra igual a tantos outros. Só alguém muito ingénuo acredita que não tivesse existido dezenas de aldeias queimadas e incendiadas, quer da parte portuguesa quer da frelimo´, é a brutalidade da guerra. Agora o que diferenciou esta operação das outras? Esta foi montada, para criar impacto internacional. Esta estratégia, diga-se de passagem, resultou. O esforço da Frelimo estava no limite, transportar através da provincia de Tete com armamento para bases pequenas em Manica e Sofala, não era fácil. A propaganda foi facilitada pelo cansaço da guerra dos tais oficiais portugueses que sendo do quadro, e tendo portanto escolhido a carreira militar, estavam exausto de uma guerra que foi obra essencialmente, de milicianos, (com honrosas excepções). Esta mistura explosiva a que parece se terem associado os padres de Burgos muito preocupados sempre com o bem estar das populações,(não sei se sentem responsáveis por terem sido agentes da "libertação" de Moçambique, do que lá se passou a seguir), esta mistura dizia, possibilitou "fenómenos" como Wiriyamu. Para ali foi chamada uma companhia de comandos, aliás, alguns grupos dessa companhia, (4 dos 6). Estes homens serviram o seu país como portugueses de Moçambique que eram, e serviram-no de forma inatacável. Têm sido o bode expiatório de toda esta trama ao longo de todos estes anos, porque apenas cumpriram o seu dever. Se todos os outros o tivessem feito, Wiriyamu nunca teria existido.Aliás o comandante da companhia foi o único até hoje a dar a cara e dizer o que fez, onde fez e encontrar explicações, sendo certo que não as terá todas. Grande homem.
Obrigado por ler o meu comentário Filipa Fernandes


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