Sexta-feira, 24 de Julho de 2009
Moçambique, a Pérola do Índico
Tenho acompanhado, com particular interesse, a actual situação política que se vive em Moçambique, quando o País está a cerca de 100 dias das eleições presidenciais que, provavelmente só provocarão uma grande alteração dentro da Oposição com a entrada do MDM para o lugar de maior partido da Oposição.
Depois de analisar toda a vasta informação que me tem sido enviada, esta poderá ser a última vitória da Frelimo, porque as grandes divisões existentes no seu seio, entre os novos quadros políticos e os quadros oriundos da luta armada, começam a extravasar para opinião pública melhor informada. Estes novos quadros estão à espera de uma forte votação no MDM, para encetarem um processo interno de Mudança, havendo, inclusive, alguns a fazer jogo duplo. Não perspectivo uma derrota da Frelimo, porque as condições, para que tal aconteça, estão muito longe de estarem reunidas. Alguns exemplos:
FRELIMO, o passado, a estagnação e a pobreza
1 – O regime continua a ser uma ditadura, mascarada de democracia;
2 – Os militares radicais dos tempos do Samora Machel continuam a dominar o poder;
3 – A corrupção continua a dominar a economia do País e é fomentada pelos detentores do poder e que são os seus grandes beneficiários;
4 – Metade das Receitas do Orçamento Geral do Estado provêm dos estados doadores o que, na actual crise económica, poderá ter efeitos perniciosos na economia, porque se prevê uma assinalável quebra nessas doações;
5 – Grande parte dessas receitas não é aplicada no desenvolvimento do País, mas desviadas para outros fins, nomeadamente o enriquecimento fraudulento dos dirigentes da Frelimo;
6 – Toda a terra pertence ao Estado, da qual o Governo põe e dispõe, pelo que a iniciativa privada não existe ou é muito escassa;
RENAMO, uma vitória militar que não conseguiu ser uma vitória política
7 – Todo o aparelho do Estado é controlado pela Frelimo e o apoio estatal às autarquias depende da sua cor política;
8 – O ensino oficial é baseado no racismo contra os brancos, especialmente, contra os portugueses, com argumentos impensáveis;
9 – O clima de medo está instalado em todo o País, especialmente, em Maputo, onde o assassínio de advogados é uma constante, pelo que a justiça é aplicada contra todas as normas do Direito Internacional;
10 – As eleições não são livres e, muito menos, democráticas. Além da “compra” de votos, há a intimidação, os votos que entram nas urnas sem que os eleitores votem, enfim, uma encenação da democracia.
MDM, a esperança, o futuro, a democracia e a liberdade
Perante este cenário, só resta à Oposição pedir a intervenção das Organizações Internacionais para supervisionarem o processo eleitoral e, depois, aguardar pelo processo de “autofagia” da Frelimo que poderá iniciar-se a qualquer momento, embora dependendo muito dos resultados eleitorais.
(Continua…)
NOTA: Na próxima Quinta-feira, 30/7, vou participar, na qualidade de ex-combatente, no programa "Destaques" da Rtv, das 16.00 às 17.30 horas. Este canal de televisão emite na posição 14 da Cabovisão Digital e na posição 21 da TvCabo. Espero colocar alguns excertos no Youtube.
Álvaro Teixeira (GE)
Terça-feira, 14 de Julho de 2009
(...Continuação)
Depois de me ter instalado na Beira, apresentei-me, no dia seguinte, no Centro de Instrução de Grupos Especiais – CIGE, no Dondo, uma pequena vila, situada a cerca de 30 Kms. da Beira, servida pela estrada Beira - Vila Pery (Chimoio), que apesar de pequena, tinha vida própria.
Monumento à entrada da Vila do Dondo
Aqui começou a minha integração nos GE’s. Um mundo diferente, novas mentalidades, novas formas de encarar a Guerra, enfim, um mundo à parte. Por todo o lado havia boinas amarelas e farda preta (uniforme dos GE’s) ou boinas roxas e camuflados (uniforme dos GEP’s), cuja existência eu desconhecia. O frenesim era enorme e aumentou com a chegada dos graduados destacados para a “Operação Furacão”, provenientes dos diversos distritos e aquartelamentos de Moçambique e muitos militares de alta-patente que iriam coordenar toda a operação.
Estabelecem-se as primeiras amizades e iniciam-se as conversas sobre o passado de cada um. Havia histórias para todos os gostos, desde as emboscadas em que caíram, às minas que rebentavam na passagem das colunas, aos ataques aos aquartelamentos, assaltos a bases da Frelimo, etc. Ouvi de tudo e dei graças por ter estado cerca de 6 meses em Olivença e nada dessas coisas eu tivesse que enfrentar. Foi no Dondo que eu comecei a despertar para outra realidade, bem mais cruel do que o isolamento de Olivença. Comecei a ouvir falar de mortos, de feridos e do horror da guerra e comecei a compreender o comportamento estranho de alguns militares. Apercebi-me, então, de que, após a formação do GE, iria ser confrontado com uma realidade que me parecia virtual. Ia mesmo para a guerra, ia passar pelas mesmas situações, mas com uma grande diferença, é que os militares que iríamos formar, durante 6 meses, eram nativos das zonas onde o GE iria actuar no teatro de operações. Este tempo de instrução era crucial e todos tínhamos a consciência disso, pelo que todos nos empenhamos em dar o melhor que sabíamos para tornar os GE’s nas autênticas “Máquinas de Guerra” , conforme foram apodados, e que a Frelimo tanto temia.
Dondo - Rua da Vila Lusalite
Na minha opinião, é pena que, com base na imensa documentação cinematográfica, em posse das nossas Forças Armadas, não tivesse aparecido um Oliver Stone português, para retratar esta realidade, muito parecida com a que se vê nos filmes sobre a guerra do Vietname. Estou a escrever e, ao mesmo tempo, a reviver todo aquele aparato militar na pequena vila do Dondo, que incluiu a construção de um novo CIGE, propositadamente, para esta operação militar que envolveu cerca de 4.000 militares.
Ovar, 14 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Hermínio da Palma Inácio
Este “post” é um pouco mais curto, porque acabei de receber a notícia da morte de um grande amigo, Hermínio da Palma Inácio. Conheci-o, em Lisboa, em finais de Maio de 1974, no Café Nicola, no Rossio, quando estava acompanhado de um, também, grande amigo já falecido, Fernando Oneto. Conversávamos muito, quando tudo era uma grande confusão. Ele próprio me confidenciou, muitas vezes, que o receio que tinha era de que Portugal se tivesse libertado de uma ditadura, para cair noutra, tais eram as indefinições da Junta de Salvação Nacional e da influência dos grupos radicais. Palma Inácio era um democrata e, sempre, defendeu os grandes valores da Liberdade, da Justiça Social e da Fraternidade.
Aqui fica a minha singela, mas sentida, homenagem a um grande lutador. Descanse em paz.
O meu muito obrigado, meu Grande Amigo.
Para saber mais sobre a vida de Hermínio da Palma Inácio, clique no seguinte endereço:
http://www.barlavento.online.pt/index.php/noticia?id=14359
Quarta-feira, 8 de Julho de 2009
"...Os Homens só morrem quando a Pátria se esquece deles.."
(…continuação)
Monumento aos Mortos na Guerra Colonial - Lisboa
Como é do conhecimento geral, o Movimento do Capitães inicia-se como uma reacção corporativa a directivas do regime e veio, mais tarde, a introduzir a componente política, devido à derrota eminente das nossas Forças Armadas na Guiné-Bissau. A solução política, para o desfecho da Guerra Colonial, começou a ganhar força e há informações, que eu não posso confirmar, que o governo de Marcelo Caetano se preparava para reconhecer, forçado pelos generais António de Spínola e Costa Gomes, o direito da Guiné à autodeterminação e independência, de modo a evitar uma derrota militar, com todas as consequências que isso provocaria nas outras colónias, Angola e Moçambique.
Torna-se claro que esta tomada de posição obedecia a um projecto militar que consistia no reforço das Forças Armadas em Moçambique, onde a situação militar estava no limiar do ponto crítico, com os ataques da Frelimo no corredor da Beira/Manica.
A situação em Angola estava controlada, com a FNLA e o MPLA retirados para o Zaire e com a Unita a pautar as suas acções no sudoeste de Angola. Há que realçar que, nesta ex-colónia, a luta armada já há, bastante tempo, era mais uma luta fratricida entre os três Movimentos do que, propriamente, contra o Exército Colonial Português.
Depois deste meu exercício de memória, feito um pouco por alto neste “post”, uma vez que a situação de Moçambique irei abordá-la mais em pormenor, quando passar a descrever a minha actuação como GE, há que ter em consideração os seguintes aspectos de uma Guerra, pela qual era obrigatório passar, mas que, quase ninguém (os nossos militares) achava como sua:
A – Nunca, na nossa instrução militar, foi incutida a ideia de ir para África matar “pretinhos” indefesos;
B – Pelo contrário, foi-nos incutido um espírito de protecção às populações e qualquer desmando conhecido era severamente punido;
O autor do Blog com um órfão de guerra - Niassa (Moçambique)
C – Muitos dos nossos militares prestaram serviço às populações, nomeadamente, no que diz respeito aos cuidados de saúde, à preparação de terrenos para aproveitamento agrícola, as chamadas “machambas”, na abertura de vias de comunicação, no ensino, na construção de habitações, no fornecimento de energia eléctrica, etc.;
D – O respeito pelos usos e costumes das diferentes etnias, além de ser uma constante, era, também, um ponto de convergência e de partilha. Era habitual a participação dos nossos militares nas festas organizadas pela comunidade local e existia reciprocidade, nomeadamente, na festa de Natal em que participava toda a gente;
E – É evidente que aconteceram coisas desagradáveis, o caso de Wiriamu é o mais conhecido e é, de facto, um crime de guerra, mas que não passaram de acções individuais de pessoas tresloucadas, porque nunca houve qualquer ordem de limpeza étnica e estou convicto de que, por mera hipótese, se uma qualquer ordem dessas fosse emanada, certamente que não seria cumprida.
Não é minha pretensão fazer qualquer branqueamento da Guerra Colonial, que, do meu ponto de vista, nunca deveria ter existido, mas a verdade é que ela existiu e que constitui um período muito negro da nossa História, devido à falta de visão, para não utilizar outros termos, dos nossos “pacóvios” governantes.
Por outro lado, nunca tivemos acesso a uma informação neutra, mas sim a informação contraditória das partes interessadas: A Rádio Moscovo e a Rádio Argel, por um lado e a, então, Emissora Nacional com o seu programa “A Rádio Moscovo não fala verdade” e as crónicas do jornalista Ferreira da Costa, sobre a situação em Angola.
Acabada a Guerra Colonial, o assunto passou a ser tabu e, infelizmente, não tivemos um Oliver Stone, para descrever aos portugueses a realidade cruel deste passado recente. A bibliografia existente quase não passa de testemunho pessoais, pelo que a sua integração no contexto histórico, torna-se difícil de apreender.
As duas séries produzidas pelo jornalista Joaquim Furtado para a RTP1, têm o valor que têm, mas não passam de testemunhos pessoais, quase sempre das mesmas pessoas, e que não passam de uma tentativa de comer o interior do melão sem lhe tirar a casca.
E será, do meu ponto de vista, por estes motivos que ainda existe uma grande clivagem entre os Partidos de Direita e os de Esquerda sobre esta temática e, além disso, uma grande parte da sociedade considerar que uma homenagem aos Mortos da Guerra Colonial ou às confraternizações de ex-combatentes são demonstrações de um espírito saudosista ou revanchista. Isto não corresponde, minimamente, à realidade. Há ex-combatentes em todos os quadrantes partidários, da extrema-direita à extrema-esquerda, mas há uma realidade inequívoca e que é a de que os partidos de esquerda, ao não conseguirem lidar com esta situação, a mesma tem sido aproveitada pelos partidos de direita.
Acho que é tempo de acabar com estas clivagens, a fim de que os nossos mortos possam descansar em paz e que os vários milhares de ex-combatentes, cujas vidas foram desfeitas pelos traumas de uma guerra injustificável, tenham direito a uma vida digna e sejam integrados numa sociedade que os rejeitou.
Ovar, 7 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Sábado, 4 de Julho de 2009
Cerimónia Fúnebre
Há poucos dias coloquei um inquérito de opinião, num Blog do qual sou co-autor “Ovar_novosrumos” e cuja pergunta é a seguinte:
“Concorda que Ovar, a exemplo da maioria dos municípios portugueses, construa um monumento de homenagem aos seus mortos na Guerra Colonial?”.
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Castelo de Paiva | Covilhã | Oliveira de Azemeis | Lisboa |
Muito embora o número de respostas ainda não seja significativo, permite, desde já, retirar uma conclusão:
Há uma grande percentagem de portugueses que, ainda, não compreende o papel das nossas Forças Armadas, especialmente dos milicianos, desempenhado no período da Guerra Colonial, essencialmente, por falta de informação que ajude à compreensão de tudo o que se passou nessa época e do seu enquadramento na política geoestratégica mundial da altura.
1 – Portugal era governado em regime de ditadura colonial-fascista e o serviço militar era obrigatório;
2 – O Governo de então considerava que Portugal ia da Europa a Timor e era uno e indivisível, pelo que os seus militares eram obrigados a prestar o seu serviço no local para onde fossem mobilizados;
3 – A imensa maioria da população era despolitizada e a taxa de analfabetismo rondava os 50% no início da década de 1960;
4 – A Guerra Colonial era vista como um drama por toda a gente, mas a resignação era total;
5 – Cada funeral de um militar morto na guerra constituía uma grande manifestação de pesar e esse militar passava a ser considerado como mais um herói que morreu ao serviço da Pátria;
6 – O sentimento anti-colonialista só se começou a fazer sentir, em muito pequena escala e restrito a organizações clandestinas de extrema-esquerda, nos finais da década de 1960 e princípios da de 1970, galvanizadas pelo “Maio de 68” e pelo movimente “hippy”, cuja sigla era “make love, not war”.
7 – É claro que durante os anos 60 aconteceram algumas acções anti-colonialistas, tal como a protagonizada por Henrique Galvão, com o desvio do “Paquete Santa Maria” ou outras efectuadas pela LUAR e pela ARA, mas que a propaganda do regime se encarregava de ocultar ou de destruir, atribuindo a estes acontecimentos um cunho de delito comum ou atitudes de traidores da Pátria;
8 – A política geoestratégica mundial era dominada pela “Guerra Fria”, que estava no seu auge e os dois blocos imperialistas, o Americano e o Soviético, lutavam taco-a-taco pela manutenção e pelo alargamento da sua influência e é neste enquadramento que surge o caso de Cuba e da Guerra do Vietname e, anos mais tarde, o derrube do regime chileno de Salvador Allende;
9 – Enquanto a União Soviética ia aproveitando as independências dos Países Africanos para alargar a sua influência, os Estados Unidos da América consolidavam as suas posições na América Latina;
10 – O regime português colonial-fascista fica confrontado com estas duas situações, se, por um lado, não contava com o apoio dos EUA, em termos políticos, era confrontado com uma guerrilha apoiada pela URSS. Os EUA ainda tentaram meter uma lança em África com o seu apoio à UPA de Holden Roberto, mais tarde transformada na FNLA. A URSS dominava o PAIGC na Guiné, o MPLA, em Angola e, após a morte de Eduardo Mondlane, a FRELIMO, em Moçambique;
Imagem de um dos Massacres da UPA - Angola 1961
11 – É neste quadro que ocorre a Revolução de 25 de Abril de 1974. Os EUA, com o presidente Nixon debilitado pelo escândalo do “Watergate”, nada poderiam fazer para evitar que a URSS alargasse a sua influência em África, com as independências das ex-colónias, através do seu apoio à “Independência, já” e da sua influência em algumas cúpulas militares da Junta de Salvação Nacional.
(Continua…)
Ovar, 4 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Quarta-feira, 1 de Julho de 2009
A famosa foto de Che Guevara, conhecida formalmente como “Guerrilheiro Heróico”, onde aparece seu rosto com a boina negra olhando ao longe, foi tirada por Alberto Korda em cinco de Março de 1960 quando Guevara tinha 31 anos num enterro de vítimas de uma explosão.
Somente foi publicada sete anos depois.
O Instituto de Arte de Maryland – EUA denominou-a “A mais famosa fotografia e maior ícone gráfico do mundo do século XX”. É, sem sombra de dúvidas, a imagem mais reproduzida de toda a história expressa um símbolo universal de rebeldia, em todas suas interpretações, (segue sendo um ícone para a juventude não filiada às tendências políticas principais).
Poderá parecer descabido incluir neste Blog uma homenagem e um tributo a Che Guevara, mas, do meu ponto vista não é, uma vez que, infelizmente, o seu exemplo, em muitos aspectos, continua actual, basta reparar no Golpe de Estado ocorrido nas Honduras há bem poucos dias.
Aprendi a conhecer a vida e a obra do Comandante Che Guevara, a partir dos meus 17 anos, quando frequentava o último ano do terceiro ciclo do ensino secundário. Começou, a partir daí, a crescer a minha admiração por esta grande figura da história mundial recente e considerada uma das maiores 100 personalidades do século XX, embora sabendo que ele tinha sido assassinado em 1967, de uma forma ardilosa montada pelo imperialismo dos EUA em que estes fizeram passar a mensagem de que ele tinha sido vítima dos plantadores de coca da Bolívia.
Ernesto “Che” Guevara era um comunista de formação política, mas era, sobretudo, um combatente anti-imperialista e libertário e tinha uma utopia: a libertação dos povos oprimidos.
Esta utopia, ele que era natural da Argentina, onde se formou em medicina, fê-lo lutar, como braço direito de Fidel Castro, ao lado dos guerrilheiros cubanos que, a partir da Sierra Maestra, derrubaram a ditadura de extrema-direita de Fulgêncio Baptista. Tanto ele, como Fidel Castro, esperavam contar com o apoio dos EUA no desenvolvimento de Cuba.
O decanso do Guerrilheiro
(“Eu tinha a maior vontade de entender-me com os Estados Unidos. Até fui lá, falei, expliquei nossos objectivos. (...) Mas os bombardeios, por aviões americanos, das nossas fazendas açucareiras, das nossas cidades; as ameaças de invasão por tropas mercenárias e a ameaça de sanções económicas constituem agressões à nossa soberania nacional, ao nosso povo”.) (Fidel Castro, a Louis Wiznitzer, enviado especial do Globo a Havana, em entrevista publicada em 24 de Março de 1960). Ocupou altos cargos na administração cubana, mas a falta do apoio americano, obrigou o regime de Fidel Castro a enveredar pelo apoio da União Soviética. E é, a partir desta altura, que Che Guevara se começa a aperceber do Imperialismo Soviético e que os ideais comunistas que ele perfilhava não passavam de uma utopia, mas a sua personalidade libertária, fruto das experiências vividas em toda a América Latina, nunca se alterou.
Era Ministro da Indústria, quando abandona Cuba, em 1965, contrariando os conselheiros soviéticos, para percorrer o caminho da sua utopia. Fidel Castro tinha proclamado Cuba como uma República Marxista-Leninista o que, para Che Guevara, um comunista utópico, com raízes anarquistas, não era mais do que um colete-de-forças para a sua forma de encarar a vida. Deixou todas as mordomias que o regime comunista de Fidel Castro lhe proporcionava e embrenhou-se nas matas do continente sul-americano, para prosseguir a sua luta de libertação dos pobres e oprimidos. Morre na Bolívia e o seu cadáver, sem os dedos das mãos, é exibido como um troféu pelos militares daquele País. Recusou-se a servir o imperialismo soviético, para morrer às mãos dos servidores do imperialismo americano em 9 de Outubro de 1967, em La Higuera, Santa Cruz, Bolívia, contava, então, 39 anos de idade.
O cadáver de "Che" Guevara, em exposição
Não me atrevo a acabar este artigo, sem recordar Eduardo Mondlane. Cada um tinha a sua utopia e, ambos, nunca seriam ditadores. A utopia de Mondlane era a Libertação do seu País e do seu Povo e estabelecer um regime democrático, de estilo ocidental, em Moçambique.
Esta utopia levou-o ao seu assassinato às mãos daqueles que, dentro da Frelimo, perfilhavam os “ideais” marxistas-leninistas-maoistas e estavam a soldo do imperialismo comunista da União Soviética e da China e que, ainda hoje, se mantêm no poder, não porque o povo vote neles, mas porque a falta de intervenção cívica, que tanto jeito dá ao governo, leva a que as taxas de abstenção que ultrapassam, largamente, as taxas de votação.
A luta de ambos não foi em vão, mas se a utopia de Che Guevara continuará no reino da utopia, já a de Eduardo Modlane e Uria Simango poderá concretizar-se a curto prazo. Para isso é necessário que os seus seguidores tenham o poder e a inteligência de mobilizarem o Povo de Moçambique para ser o protagonista de uma Revolução Pacífica e Democrática no próximo dia 28 de Outubro.
Faço votos para que assim seja e que os Moçambicanos consigam concretizar a utopia de Eduardo Mondlane, 40 anos após a sua morte.
Prisioneiros no Campo de Extermínio da Frelimo, em Netela, Niassa
Moçambique ainda não fez a paz com o seu passado, mas a memória destas pessoas exige-a
Ovar, 1 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)