“Nós não estamos arrependidos”
Marcelino dos Santos
Emílio Manhique, apresentador do programa “No Singular” na TV pública moçambicana (TVM), entrevistou, em 2005, o antigo membro da Frente de Libertação de Moçambique e mais tarde ministro de Samora Machel, presidente da Assembleia Popular, e membro do Bureau Político (mais tarde Comissão Política Permanente) do Comité Central do partido Frelimo marxista leninista.
Dos arquivos do «Canal de Moçambique» extraímos parte dessa entrevista relativa aos fundadores e combatentes da Luta de Libertação Nacional que defendiam um regime como o que hoje vigora em Moçambique e com a alegação de que por isso eram anti-patrióticos e “reaccionários” foram sumariamente abatidos no fim da década de 70, princípio de 80, já depois de Moçambique ser membro das Nações Unidas, sem que tenham sido observados os mais elementares princípios do Direito consagrado em sociedades civilizadas.
Emílio Manhique : “Lazaro Nkavandame, Gwenjere, Joana Simeão foram mortos depois da independência, mas a Frelimo tinha dito que iam ser reeducados, que iam servir de exemplo. Porque é que foram mortos sem sequer nenhum julgamento?”
Marcelino dos Santos: “Naturalmente... primeiro porque consideramos que era justiça.”
Manhique: “Justiça popular?”
Marcelino dos Santos: “Altamente popular, exercida”...
Manhique:... “mas foi uma justiça de um movimento guerrilheiro, não de um partido”.
Marcelino dos Santos: “Justiça contra traidores porque qualquer um deles se aliou ao colonialismo português.”
Manhique: “Mas porque é que a Frelimo primeiro disse que iam servir de exemplo?”
Marcelino dos Santos: “Sim, e depois sobreveio a acção, a tentativa do inimigo de buscar elementos moçambicanos descontentes, em particular aqueles que pudessem ser-lhes bastante úteis. Então, aquela consciência que nós tínhamos inicialmente de que são traidores e que, portanto deveriam ser executados. Bom, numa certa medida podemos dizer que surgiram as condições que forçaram a implementação de uma preocupação e de um sentimento muito, muito, muito antigo porque é bom não esquecer que Lázaro Nkavandame...”.
Manhique: “E porque é que não se informou o povo?”
Marcelino dos Santos: “Porque aí é preciso ver o momento em que isso acontece e naturalmente embora nós sentíssemos a validade da justiça revolucionária, aquela construída, fecundada pela luta armada revolucionaria de libertação nacional, havia, no entanto, o facto de que já estávamos em Estado independente. Quer dizer, Moçambique se tinha ja constituído em Estado embora a Frelimo fosse realmente a força fundamental desse Estado. Então foi isso, talvez, que nos levou, sabendo precisamente ainda que muita gente não estava certamente apta a entender bem as coisas, que nós preferimos guardar no silêncio esta acção realizada. Mas que se diga bem claramente que nós não estamos arrependidos da acção realizada porque agimos utilizando a violência revolucionária contra os traidores e contra traidores do povo moçambicano”.
(TVM – 19.Set.2005 - Programa «No Singular»)
(A Drª. Joana Simeão no Campo de Concentração de Metelela - Niassa. 2ª. da fila da frente)
N.E.: De referir que Emílio Manhique é locutor da Rádio Moçambique e sobrinho do moçambicano que deu o nome de Frente de Libertação de Moçambique ao movimento que viria a negociar o país com o regime implantado em Lisboa depois do golpe de Estado do 25 de Abril em Portugal. O tio do jornalista, estava com Marcelino dos Santos em Acra, no Ghana, quando este último criou a partir da inspiração de Fanuel Malhuza o acrónimo Frelimo. Malhuza morreu o ano passado em Maputo sem merecer quaisquer honras se bem que foi o criador da designação que imortalizou o movimento pela Independência de Moçambique.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 17.05.2006
NOTA:
Na realidade, para quem confunda FRELIMO com POVO DE MOÇAMBIQUE não está mal explicado...
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Será que estes bandidos irão morrer de consciência tranquila?
Álvaro Teixeira (GE)
Combatentes de Guerra do Ultramar
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