Nos finais do mês de Abril de 1973 fui nomeado para ir para os Grupos Especiais (GE´s), não porque, fosse voluntário, mas, porque era o mais novo da 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20. Aceitei esta situação, não tinha outra alternativa, com o espírito de missão que tive, sempre, como militar das Forças Armadas Portuguesas. Era mais um desafio na minha curta carreira militar. A minha juventude e o espírito com que, sempre, encarei novos desafios foram, para mim, uma fonte de inspiração e de descoberta de outras realidades de uma Guerra na qual estava envolvido. Sabia, de antemão, que este novo desafio era perigoso, mas, por outro lado, só a possibilidade de sair daquele lugar perdido no extremo norte do Niassa (Olivença), ainda me motivou mais.
É óbvio que as saudades dos meus amigos, que deixei em Olivença, com os quais partilhei as agruras do que era viver no “fim do mundo” e percorrer uma imensidão de território, completamente despovoado, ficaram gravados, para sempre, na minha memória. Nunca mais esquecerei as noitadas de jogos na messe, os momentos de convívio no “parrot”, muitas vezes, ao som da guitarra dedilhada pelo alferes Oliveira, um ou outro “charro” de suruma que se fumava, com prazer e não por vício, as idas à pista de aviação, sempre que chegava o avião do Subtil, enfim, todos os pequenos prazeres que nos eram permitidos naquela situação, nos intervalos das operações.
E lá embarquei eu, mais uma vez, no avião do Subtil para Vila Cabral. Recordo-me da última imagem de Olivença e, durante a viagem, não parei de olhar para mata que tinha calcorreado durante seis meses. As imagens que me iam passando pelos olhos eram de uma beleza imensa, mas continuava a estranhar a ausência de qualquer actividade humana em toda aquela área. Pela última vez, vi Nova Coimbra e o Lunho, com o belíssimo Lago Niassa como imagem de fundo e, perante aquelas imagens, interrogava-me como era possível haver guerra num paraíso!!??. Mas que ela existia, não havia dúvidas. Emboscadas, ataques a aquartelamentos e a arma mais cobarde que pode existir e de que a Frelimo se valia, que eram as minas. Esta arma cobarde foi a que mais mortos e estropiados causou nas nossas tropas, para além da desmoralização, que a detonação de um engenho destes, provocava, mas, para a Frelimo era extremamente útil, porque era a forma de colmatar a falta de combatentes para continuar a sua luta armada. O padre Mateus Gwengere veio, mais tarde, a pagar com a vida no “ Campo de Extermínio de N´telela”, a sua oposição à política seguida por Samora Machel, que, para aumentar o número de guerrilheiros, passou a seduzir os adolescentes e jovens estudantes moçambicanos para a guerra. O padre Gwengere opôs-se, porque, em sua opinião, aqueles adolescentes e jovens deviam continuar a estudar para serem os futuros quadros de uma Nação livre e independente, mas a formação maoísta do núcleo duro da Frelimo considerava que, em primeiro lugar, dever-se-ia conquistar a independência e, após isso, construir o “homem novo”. Os resultados estão à vista e falam por si…
Adeus, Olivença (04/1973)
Cheguei a Vila Cabral (Lichinga) ao fim da manhã. Como já estava habituado a estas viagens, também sabia onde encontrar os meus amigos de Ovar. A mensagem chegou a todos “Jantar oferecido por mim, no Planalto”. Todos os que estavam disponíveis, compareceram, mas o tema da conversa era a minha ida para os GE´s. Lá lhes expliquei a situação e, com mais ou menos uma “bazooka” de Laurentina, acabamos a noite.
Era altura de ir dormir, porque, no dia seguinte, esperava-me uma viagem cansativa até à Beira.
(continua…)
Caro Álvaro:
Fiquei admirado com a seguinte frase;
"Nos finais do mês de Abril de 1973 fui nomeado para ir para os Grupos Especiais (GE´s), não porque, fosse voluntário, mas, porque era o mais novo da 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20."
Da minha Companhia saíram para os GE'S, dois Alferes e três Furrieis, mas todos VOLUNTÁRIOS, e admirado fiquei com as suas palavras uma vez que é mais novo na Provincia do que eu(3.07.72) e a comissão nos GE'S era voluntária.
Gostava que me explicasse, para tirar as minhas dúvidas.
Um abraço
Francisco Dores
De Álvaro Teixeira a 17 de Junho de 2009 às 16:32
Amigo Francisco Dores,
Eu garanto-lhe que não fui voluntário para os GE´s, porque não havia qualquer motivação aparente para o ser.
Quando cheguei a Olivença é que fiquei a saber o que eram os GE´s, porque, na mesma altura, foi para lá o GE 103 e foi aí que fiquei a conhecer os Grupos Especiais e a saber que os graduados eram todos voluntários.
No meu caso, fui convocado no fim de Abril de 1973, poque não havia voluntários na Companhia e o Capitão disse-me que, como eu era o mais novo, tinha que ir eu. Ainda lhe ripostei com o argumento de que não havia mais nenhum graduado no meu pelotão, mas não havia volta a dar. Disse-me que embarcava para Vila Cabral, no seguinte e que preparasse tudo para a viagem.
Já comentei esse assunto com vários combatentes e o que eles me dizem é que tiveram que assinar um documento de voluntariado.
O que é verdade é que eu nunca assinei nada, a menos que alguém o tenha feito por mim.
No último encontro da Associação, também fiquei a saber o caso de um furriel que já foi daqui com destino aos GE´s.
Penso que, na altura da "Operação Furacão", o voluntariado passou um bocado ao lado, porque era necessário formar cerca de 50 Grupos Especiais e não acredito que houvesse, assim, tantos voluntários. Aliás, napreparação dessa operação, não conheci nenhum voluntário, mas admito que possa ter havido alguns.
No entanto, quero dizer-lhe que aceitei a situação com espírito de missão, pelo que sinto muito orgulho por ter servido nos GE´s e digo-lhe mais que se soubesse o que sei hoje, nunca tinha ido para Olivença e tinha-me voluntariado, de imediato para os Grupos Espciais.
Acho que fui claro na minha explicação.
Caso tenhas mais alguma dúvida, dispõe.
Um abraço
De
andrey a 7 de Março de 2011 às 15:57
Oi!
Gostei do post sobre Lichinga.
Estava la trablhando do assessor militar sovietico na 4 brigada guardafronteira nos anos 1987-1988.
Usei o mesmo unifrome!
Abraços
Andrey
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