Quarta-feira, 8 de Julho de 2009

A SOCIEDADE PORTUGUESA E A GUERRA COLONIAL – Parte 2

"...Os Homens só morrem quando a Pátria se esquece deles.."

(…continuação)

 

 

Monumento aos Mortos na Guerra Colonial - Lisboa

 

Como é do conhecimento geral, o Movimento do Capitães inicia-se como uma reacção corporativa a directivas do regime e veio, mais tarde, a introduzir a componente política, devido à derrota eminente das nossas Forças Armadas na Guiné-Bissau. A solução política, para o desfecho da Guerra Colonial, começou a ganhar força e há informações, que eu não posso confirmar, que o governo de Marcelo Caetano se preparava para reconhecer, forçado pelos generais António de Spínola e Costa Gomes, o direito da Guiné à autodeterminação e independência, de modo a evitar uma derrota militar, com todas as consequências que isso provocaria nas outras colónias, Angola e Moçambique.
Torna-se claro que esta tomada de posição obedecia a um projecto militar que consistia no reforço das Forças Armadas em Moçambique, onde a situação militar estava no limiar do ponto crítico, com os ataques da Frelimo no corredor da Beira/Manica.
A situação em Angola estava controlada, com a FNLA e o MPLA retirados para o Zaire e com a Unita a pautar as suas acções no sudoeste de Angola. Há que realçar que, nesta ex-colónia, a luta armada já há, bastante tempo, era mais uma luta fratricida entre os três Movimentos do que, propriamente, contra o Exército Colonial Português.
Depois deste meu exercício de memória, feito um pouco por alto neste “post”, uma vez que a situação de Moçambique irei abordá-la mais em pormenor, quando passar a descrever a minha actuação como GE, há que ter em consideração os seguintes aspectos de uma Guerra, pela qual era obrigatório passar, mas que, quase ninguém (os nossos militares) achava como sua:
A – Nunca, na nossa instrução militar, foi incutida a ideia de ir para África matar “pretinhos” indefesos;
B – Pelo contrário, foi-nos incutido um espírito de protecção às populações e qualquer desmando conhecido era severamente punido;
 
 O autor do Blog com um órfão de guerra - Niassa (Moçambique)
C – Muitos dos nossos militares prestaram serviço às populações, nomeadamente, no que diz respeito aos cuidados de saúde, à preparação de terrenos para aproveitamento agrícola, as chamadas “machambas”, na abertura de vias de comunicação, no ensino, na construção de habitações, no fornecimento de energia eléctrica, etc.;
D – O respeito pelos usos e costumes das diferentes etnias, além de ser uma constante, era, também, um ponto de convergência e de partilha. Era habitual a participação dos nossos militares nas festas organizadas pela comunidade local e existia reciprocidade, nomeadamente, na festa de Natal em que participava toda a gente;
 
E – É evidente que aconteceram coisas desagradáveis, o caso de Wiriamu é o mais conhecido e é, de facto, um crime de guerra, mas que não passaram de acções individuais de pessoas tresloucadas, porque nunca houve qualquer ordem de limpeza étnica e estou convicto de que, por mera hipótese, se uma qualquer ordem dessas fosse emanada, certamente que não seria cumprida.
Não é minha pretensão fazer qualquer branqueamento da Guerra Colonial, que, do meu ponto de vista, nunca deveria ter existido, mas a verdade é  que ela existiu e que constitui um período  muito negro da nossa História, devido à falta de visão, para não utilizar outros termos, dos nossos “pacóvios” governantes.
Por outro lado, nunca tivemos acesso a uma informação neutra, mas sim a informação contraditória das partes interessadas: A Rádio Moscovo e a Rádio Argel, por um lado e a, então, Emissora Nacional com o seu programa “A Rádio Moscovo não fala verdade” e as crónicas do jornalista Ferreira da Costa, sobre a situação em Angola.
Acabada a Guerra Colonial, o assunto passou a ser tabu e, infelizmente, não tivemos um Oliver Stone, para descrever aos portugueses a realidade cruel deste passado recente. A bibliografia existente quase não passa de testemunho pessoais, pelo que a sua integração no contexto histórico, torna-se difícil de apreender.
As duas séries produzidas pelo jornalista Joaquim Furtado para a RTP1, têm o valor que têm, mas não passam de testemunhos pessoais, quase sempre das mesmas pessoas, e que não passam de uma tentativa de comer o interior do melão sem lhe tirar a casca.
E será, do meu ponto de vista, por estes motivos que ainda existe uma grande clivagem entre os Partidos de Direita e os de Esquerda sobre esta temática e, além disso, uma grande parte da sociedade considerar que uma homenagem aos Mortos da Guerra Colonial ou às confraternizações de ex-combatentes são demonstrações de um espírito saudosista ou revanchista. Isto não corresponde, minimamente, à realidade. Há ex-combatentes em todos os quadrantes partidários, da extrema-direita à extrema-esquerda, mas há uma realidade inequívoca e que é a de que os partidos de esquerda, ao não conseguirem lidar com esta situação, a mesma tem sido aproveitada pelos partidos de direita.
 
 
Acho que é tempo de acabar com estas clivagens, a fim de que os nossos mortos possam descansar em paz e que os vários milhares de ex-combatentes, cujas vidas foram desfeitas pelos traumas de uma guerra injustificável, tenham direito a uma vida digna e sejam integrados numa sociedade que os rejeitou.
Ovar, 7 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)

 


Publicado por gruposespeciais às 13:47
LINK DO POST | COMENTAR O POST

ver perfil

. 2 seguidores

ARTIGOS RECENTES

ZECA CALIATE VOZ DA VERDA...

O SÉRGIO ´´SERIAL KILLER`...

A VERBORRÁICA DO REGIME D...

Biografia de Zeca Caliate...

Omar Ribeiro Thomaz fala ...

"EMBARRIGUECIMENTO DOS LI...

FRAUDES MACIÇAS NAS ELEIÇ...

Não deves nada à Frelimo,...

Metelela - Os crimes da F...

ESCLARECIMENTO

ARQUIVOS

Abril 2016

Março 2016

Outubro 2014

Agosto 2014

Maio 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Junho 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Junho 2012

Abril 2012

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

MAIS COMENTADOS

ÚLT. COMENTÁRIOS

Afinal Samora e os amigos foram traiçoeiros ,assim...
Caro amigo, se quiser partilhar a sua experiência,...
Sou um velho GE. Período 71/73.Comandei o GE 212 N...
Gostei de ouvir a messenge sobre os nossos heróis ...
EmFalta dizer que nesss fata te ofereceste para se...

tags

todas as tags

OUTROS BLOGS E MUITO MAIS

subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub