(...Continuação)
Depois de me ter instalado na Beira, apresentei-me, no dia seguinte, no Centro de Instrução de Grupos Especiais – CIGE, no Dondo, uma pequena vila, situada a cerca de 30 Kms. da Beira, servida pela estrada Beira - Vila Pery (Chimoio), que apesar de pequena, tinha vida própria.
Monumento à entrada da Vila do Dondo
Aqui começou a minha integração nos GE’s. Um mundo diferente, novas mentalidades, novas formas de encarar a Guerra, enfim, um mundo à parte. Por todo o lado havia boinas amarelas e farda preta (uniforme dos GE’s) ou boinas roxas e camuflados (uniforme dos GEP’s), cuja existência eu desconhecia. O frenesim era enorme e aumentou com a chegada dos graduados destacados para a “Operação Furacão”, provenientes dos diversos distritos e aquartelamentos de Moçambique e muitos militares de alta-patente que iriam coordenar toda a operação.
Estabelecem-se as primeiras amizades e iniciam-se as conversas sobre o passado de cada um. Havia histórias para todos os gostos, desde as emboscadas em que caíram, às minas que rebentavam na passagem das colunas, aos ataques aos aquartelamentos, assaltos a bases da Frelimo, etc. Ouvi de tudo e dei graças por ter estado cerca de 6 meses em Olivença e nada dessas coisas eu tivesse que enfrentar. Foi no Dondo que eu comecei a despertar para outra realidade, bem mais cruel do que o isolamento de Olivença. Comecei a ouvir falar de mortos, de feridos e do horror da guerra e comecei a compreender o comportamento estranho de alguns militares. Apercebi-me, então, de que, após a formação do GE, iria ser confrontado com uma realidade que me parecia virtual. Ia mesmo para a guerra, ia passar pelas mesmas situações, mas com uma grande diferença, é que os militares que iríamos formar, durante 6 meses, eram nativos das zonas onde o GE iria actuar no teatro de operações. Este tempo de instrução era crucial e todos tínhamos a consciência disso, pelo que todos nos empenhamos em dar o melhor que sabíamos para tornar os GE’s nas autênticas “Máquinas de Guerra” , conforme foram apodados, e que a Frelimo tanto temia.

Dondo - Rua da Vila Lusalite
Na minha opinião, é pena que, com base na imensa documentação cinematográfica, em posse das nossas Forças Armadas, não tivesse aparecido um Oliver Stone português, para retratar esta realidade, muito parecida com a que se vê nos filmes sobre a guerra do Vietname. Estou a escrever e, ao mesmo tempo, a reviver todo aquele aparato militar na pequena vila do Dondo, que incluiu a construção de um novo CIGE, propositadamente, para esta operação militar que envolveu cerca de 4.000 militares.
Ovar, 14 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Hermínio da Palma Inácio
Este “post” é um pouco mais curto, porque acabei de receber a notícia da morte de um grande amigo, Hermínio da Palma Inácio. Conheci-o, em Lisboa, em finais de Maio de 1974, no Café Nicola, no Rossio, quando estava acompanhado de um, também, grande amigo já falecido, Fernando Oneto. Conversávamos muito, quando tudo era uma grande confusão. Ele próprio me confidenciou, muitas vezes, que o receio que tinha era de que Portugal se tivesse libertado de uma ditadura, para cair noutra, tais eram as indefinições da Junta de Salvação Nacional e da influência dos grupos radicais. Palma Inácio era um democrata e, sempre, defendeu os grandes valores da Liberdade, da Justiça Social e da Fraternidade.
Aqui fica a minha singela, mas sentida, homenagem a um grande lutador. Descanse em paz.
O meu muito obrigado, meu Grande Amigo.
Para saber mais sobre a vida de Hermínio da Palma Inácio, clique no seguinte endereço:
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