
Estado actual do "Novo CIGE"
Agora estou no novo CIGE, à saída do Dondo, na entrada da picada para Inhaminga. Um Centro de Instrução enorme, todo ele construído com chapas de zinco assentes em estruturas de ferro.
O primeiro dia foi passado em palestras orientadas pelos altos comandos, nomeadamente, com o já falecido coronel Costa Campos. Fomos informados da nossa missão e dos princípios por que se norteavam os Grupos Especiais (GE’s). Comecei, então, a tomar consciência da responsabilidade que implicava a formação de um Grupo Especial, quais os objectivos da “Operação Furacão” e de todas as condicionantes que implicavam a formação dos novos militares. A missão não iria ser fácil, mas, psicologicamente, preparei-me para ela.
No dia seguinte, todos os graduados iniciaram os exercícios físicos baseados nos métodos da preparação dos “Comandos”: um estrado com cerca de um metro de altura, onde, um graduado, previamente escolhido, ia coordenar um exercício físico até à exaustão. Acabado este, um novo graduado subia para o estrado e coordenava outro exercício. Também fiz a minha parte na coordenação de um exercício e, apesar do meu aspecto franzino, consegui uma “performance” que nunca imaginei estar ao meu alcance.
Passados alguns dias começaram a chegar os primeiros recrutas. Já estava formada a equipa de triagem coordenada pelo capitão Mendonça e para a qual eu fui destacado, ficando com a responsabilidade dos recrutas da zona de Vila Gouveia (Catandica) e de os instalar no respectivo Pavilhão. Viriam a constituir o GE 913 e o GE 914, o primeiro com destino a Camberembera e o segundo, ao Fúdze. Comecei, de imediato, a impor as regras básicas da disciplina militar, o que não se tornou difícil, conforme irei explicar em Posts posteriores. O meu maior problema residiu na quantidade, porque cheguei a ter mais de 250 homens, o equivalente a quase 2 companhias da tropa normal.
Uma imagem do Campo de Instrução (Exercícios Físicos), com o autor do Blog em 1º. plano.
Há, no entanto, um episódio caricato, que não posso deixar de relatar. Após poucos dias e pouco antes de se terminar a triagem, fui chamado pelo capitão Mendonça para instalar mais alguns recrutas, cerca de 15. Eram uns indivíduos que usavam vestes brancas, o cabelo rapado e uma pequena barbicha. Nunca tinha visto nada de semelhante, mas alojei-os no Pavilhão respectivo. Entretanto, já tinha começado com a preparação física dos que já estavam integrados e estes últimos entraram, também, no Grupo. Os dias foram passando com exercícios físicos, instrução militar de recruta própria dos GE´s (a forma de marchar, que era acompanhada de cânticos próprios, e outros movimentos eram muito diferentes dos da tropa normal). Tudo correu bem até à entrega dos fardamentos e das armas. No dia seguinte a esta entrega, houve a formatura habitual em frente ao Pavilhão, para o pequeno-almoço e já todos fardados. É então que reparo que, na formatura, faltavam os recrutas de cabeça rapadas. Entrei no Pavilhão, estava vazio e reparo que, em cima da cama de cada um deles, estava o fardamento e a arma. Tinham fugido durante a noite. Procurei indagar o que se tinha passado e cheguei à conclusão de que eles praticam uma religião pacifista o que vim a comprovar, mais tarde, no teatro de operações. Eles deslocavam-se pela Serra Choa, com as suas vestes brancas, como se nada se passasse, não eram atacados por ninguém e eram conhecidos como “Apóstolos”.
Fui dar conta da situação ao capitão Mendonça e tudo ficou resolvido.
Já com tudo estabilizado e, depois daquele tempo de preparação física dos graduados, começamos a instrução militar, propriamente dita.
(Continua …)
Ovar, 13 de Agosto de 2009
Álvaro Teixeira (GE)