(… Continuação)
Começamos a instrução dos militares, praticamente, a partir do zero o que, de certo modo, facilitou o nosso trabalho, pelo menos na parte que me disse respeito. Os novos recrutas vinham de aldeias distantes, dispersas pela Serra Choa, onde, poucos meses antes, a Frelimo tinha aberto um corredor de infiltração em direcção a Manica com todo o cortejo de desgraças que isso provocou nas populações que não aderiram ao Movimento de Libertação, obrigando-as a refugiarem-se em povoações mais próximas da estrada que liga o Vandúzi a Tete e que seriam alojadas nos aldeamentos de Nhassacara, Fúdze, Nhampassa e outros que foram sendo construídos ao longo da referida estrutura rodoviária e por onde passava todo o material necessário à construção da Barragem de Cahora Bassa com a consequente segurança, não só do ponto de vista psicológico, como militar, que todo este movimento dava às referidas populações.
O cortejo de desgraças a que acima me refiro e que irei descrever em artigos seguintes, além de me terem sido relatados pela próprias populações, verifiquei-os no próprio terreno e foram-me confirmados, há bem pouco tempo, pelo ex-Comandante da Frelimo, cujo nome, para já, não estou autorizado a divulgar e que foi o responsável pela instalação da Frelimo ao longo de toda a zona a sul de Tete, incluindo a Serra Choa. Os Moçambicanos desse tempo conhecem-no muito bem e os altos responsáveis da Frelimo sabem de quem estou a falar, porque lhe coube a glória de ser o primeiro guerrilheiro da Frelimo a atravessar a fronteira psicológica que constituía o Rio Zambeze.

Mas voltando ao Dondo e ao CIGE e à estaca zero, é importante referir que uma grande parte dos recrutas não falava português, havendo uma grande percentagem que falava inglês, porque trabalharam alguns anos na ex-Rodésia, hoje Zimbábué e que fugiram das guerras que se travavam junto à fronteira, das ZANU do Robert Mugabe contra o regime de Ian Smith e da Frelimo, contra o regime colonial português. Como não conhecia uma única palavra do dialecto local, que era comum a todos, comecei a dar a instrução nas duas línguas, português e inglês o que veio a permitir que, para o fim da instrução, já todos falassem e compreendessem, dentro do necessário, o português. Tive uma grande ajuda de um recruta, o Vasco, o mais culto de todos, que tinha andado a estudar em Vila Gouveia e, à noite, passava uma grande parte do tempo a ensinar a língua portuguesa aos seus companheiros do Grupo.
A instrução incidia em três vertentes: a física, a psicológica e a de combate.
Sobre a vertente física, pouco há dizer, porque eram pessoas bem dotadas fisicamente, pelo que os exercícios serviam mais para uma integração de grupo, coordenação de movimentos e de adaptação à arma, a fim de que ela se tornasse como uma extensão do próprio corpo.
A vertente psicológica, do meu ponto vista, era a mais importante. Baseei-me muito na informação que cada um possuía, quase todos os recrutas tinham passado por alguma experiência ou tinham conhecimento de acções do “terrorismo” praticadas pela Frelimo, sempre que abria uma nova frente de guerrilha e que consistiam em assassínios dos que não aderiam ao movimento, raptos, essencialmente de mulheres e de roubos de cabeças de gado. Estas acções provocavam o ódio aos “bandidos”, como lhes chamavam e, como cada um, prestava, perante o Grupo, o seu depoimento, este era assimilado por todos, como se dissesse respeito a cada um. Estava lançada a semente para a criação do espírito de grupo e trabalharmos todos estes elementos na parte psicológica, majorando, ainda mais, a necessidade do combate à Frelimo.
A par da vertente psicológica, era ministrada a instrução de combate que passava pela luta corpo a corpo, preparação de emboscadas, reacção a emboscadas, formas de progressão na mata, tiro ao alvo, utilização das granadas, tiro de morteiro, etc. Estes conhecimentos de combate introduzia no Grupo um sensação de segurança, cuja evolução de notava de dia para dia, aliada ao facto de que, ao possuírem uma arma, lhes aumentava a auto-estima e o sentimento de vingança.
GE´s - Moçambique "máquinas de guerra" (foto do JN de 15/02/1996)
Por estes motivos é que os GE´s eram considerados como “autênticas máquinas de guerra”, muito temidos pela Frelimo, porque estávamos a operar nos mesmos terrenos.
(continua…)
Ovar, 4 de Setembro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
De Francisco Dores a 4 de Setembro de 2009 às 22:25
Fugiam da Frelimo, Zanu e também da Zapu de Nkono,que fez parte do 1º governo da Zanu e assassinado pelo Robert Mugabe e sus muchachos.
O principal problema na estrada Chimoio(Vila Pery/Cabora Bassa), situava-se na Macossa( que dava entrada directa na Gorongosa, e que foi aqui que a PORCA TORCEU O RABO), onde a Frelimo nos criava muitos problemas, nomeadamente emboscadas às Cargas Críticas.
Depois de por aqui passar ia-se relativamente em paz até ao Km19 (cruzamento Tete-Cabora Bassa).
Chamo a atenção que escrevo Cabora e não Cahora(dialecto local).
Fico à espera de mais estórias.
Um abraço
Francisco Dores
Caro Francisco Dores,
Necessito, com urgência, do teu mail. Se mo puderes enviar, agradeço.
Um abraço
Álvaro Teixeira
De CR a 7 de Fevereiro de 2011 às 21:30
Caro Francisco Dores,
O que tem a haver a estrada da Macossa com a estrada de Vila Pery, passando por Gimo, Vanduzi, Ponte do Pungué, Honde, Vila Gouveia, Guro, Tete e Cahora Bassa?? Por esta estrada passaram realmente as cargas críticas para a barragem de "Cabora Bassa".
Agora, do Fudze até à Macossa, "MUITO PÓ" e algumas emboscadas, o soldado Rocha, de Setúbal, tem num dos ombros a prova do que digo.
Cordialmente,
CR
De Francisco Dores a 9 de Fevereiro de 2011 às 17:56
Caro CR :
Em resposta ao seu comentário tenho a referir o seguinte :
Vindo de Chimoio (Vila Pery) e antes de chegar ao Guro, virava-se à direita para a Macossa, que fica no Distrito de Manica.
O que eu disse tinha a ver com um Ex-GE que tinha estado na Macossa e mais tarde comandou um GE no Mongué (Zambézia) que eu a seguir comandei.
Só que eu estive na fronteira da Rodésia (Mocumbura) e sabia que a linha de infiltração da Frelimo era pela Macossa, para chegarem à Gorongoza, o que veio a acontecer.
Quanto às cargas criticas, isso é outra conversa.
Um abraço
e sempre ao dispor
Francisco Dores
De Eduardo Simões a 4 de Junho de 2013 às 05:57
Caro CR
O meu amigo sabe do que fala, fez bem em corrigir o Francisco Dores
Dizem, e depois.não foi isso
Só a verdade é revolucionária.
É só aprendizes de feiticeiro.
cumprimentos
Simões
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