
(… Continuação)
E, assim, chegamos ao fim da instrução dos Grupos Especiais. Todos os dias partiam vários Grupos para os respectivos Teatros de Guerra, até que chegou a vez de o meu Grupo partir para o Fúdze. Não fazia a mínima ideia onde era isso. A única informação que possuía é que era para norte de Vila Gouveia (Catandica), na entrada da picada para a Macossa. Subimos para as Berliets e iniciamos a saída. Para trás começaram a ficar as noitadas e os fins-de-semana na belíssima cidade da Beira e o Dondo, uma pequena vila de que aprendi a gostar e o meu restaurante preferido, o Garrafão. Para trás ficou, também, a minha “pretinha” que foi, propositadamente ao CIGE, para se despedir de mim. Choramos os dois, uma cena que perdurará, para sempre na minha vida. No dia anterior já me tinha despedido da May Lung, a minha “chinoquinha” da Beira, uma miúda adorável e cuja paixão era mútua, mas este aspecto ficará para artigos posteriores.
A minha primeira farda de GE
Começamos a passar os canaviais da Açucareira de Mafambisse e recordei-me do que, uns meses antes, lá se tinha passado. Na véspera de um fim-de-semana, haviam procedido a uma desratização dos canaviais. Era habitual os recrutas, durante os dias de descanso, irem dar uma volta pelos canaviais para caçar ratos que, segundo eles, era um petisco, mas nesse fim-de-semana, os ratos tinham sido envenenados e o resultado foi trágico: várias mortes de recrutas, por envenenamento e outros que, por assistência imediata ou por intoxicação menor, conseguiram escapar. Do meu GE não morreu ninguém, porque, por felicidade, estavam de serviço nesse fatídico fim-de-semana.
Deixamos para trás Vila Machado e fizemos uma paragem, para descanso, em Vila Pery (Chimoio).
No dia seguinte, de manhã cedo, partimos para a segunda e última etapa, passamos o Vandúzi, atravessamos a ponte sobre o Púnguè e, a partir daí, foi começar a subir para Vila Gouveia (Catandica), onde voltamos a fazer uma pequena paragem, só para reabastecimento e logo de seguida, encetamos o percurso de cerca de 30 quilómetros até ao Fúdze.
Num momento de descontracção
Lá chegados, foi uma decepção. O Aquartelamento era, quase todo ele, constituído por tendas de lona e foram montadas outras para o GE.
Eu instalei-me numa cantina abandonada, com um cheiro nauseabundo, onde só se conseguia dormir com rede mosquiteira e com as janelas todas abertas.
Foi o início da minha “Descida ao Inferno”…
Ovar, 24 de Setembro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
De Eduardo Simões a 5 de Junho de 2013 às 03:09
Pode parecer perseguição mas essa açucareira não era em Vila Machado? É que curiosamente também ouvi histórias referente a ratos.
Em 1º lugar aquilo era tão grande ( tive a oportunidade de sobrevoar de avioneta toda essa zona , aquilo pertencia á CUF) que não faço ideia como é que se podia fazer a desratização sem ser por meios aéreos, a nesse caso haveria intoxicação de toda a população, da zona
O que me contaram é que antes do corte fazia-se uma queimada para eliminar a folhagem e havia uma debandada de ratos que eram apanhados, sendo um petisco.
Aqui fica a minha versão, que acho curiosa Naturalmente a intoxicação poderá ter sido motivada por qualquer patologia muito provável em tais roedores.
Meu caro,
A açucareira ficava em Mafambisse que ficava muito perto do Dondo. É claro que as culturas de cana de açúcar se estendiam por uma região imensa. Se chegavam a Vila Machado ou não, isso não sei, mas será provável que sim, afinal todo o terreno era uma grande planície.
Quanto ao facto de terem morrido muitos instruendos disso não duvide, porque eu estava lá, no Dondo, no novo CIGE.
Tudo isto é verídico, mas não tenho intenção de ofender quem fez a desratização, porque Mafambisse era um local para onde muitos instruendos iam, no fim de semana e, eu próprio, também lá estive.
Quanto ao facto de falar de Vila Machado, quero dizer-lhe que esta localidade fica a cerca de 50 kms do Dondo, em direcção a Vila Pery.
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