Matavela passou pelo meu Sector e havia um bom relacionamento com todo o pessoal sob o meu comando. Acompanhei-o até ao último Destacamento que separava Tete de Manica e Sofala, na zona de Changara. Depois segui até ao rio Luenha, dali regressando ao meu Sector.
Ao chegar ao Destacamento de Chioco, então comandado por Damião Phiri, deparei-me com uma operação portuguesa dos Grupos Especiais Pára-quedistas, que decorria contra as nossas forças; estas demonstraram resistência, contra-atacando e provocando baixas e a rendição de um Furriel de nome Pedro Câmara, um Enfermeiro Cabo de nome Boaventura e um Soldado de nome Daniel.
Como a política da FRELIMO era, teoricamente, de clemência, recebi-os. Traziam o seu armamento com munições, granadas de mão e um rádio de transmissões. Fui com eles até à Base Central da Região, elaborei um relatório e encaminhei-os para o 1º Sector, mais precisamente para a Base Central Provincial. Daí foram enviados para Nachingwea, onde mais tarde vim a saber que foram acusados de serem agentes inimigos que tencionavam assassinar dirigentes da FRELIMO, inclusive, o próprio Samora Machel.
Pedro Câmara foi condenado à pena capital e fuzilado em Cabo Delgado. Os dois outros colegas conseguiram escapar para a Etiópia, onde, segundo consta, o Boaventura foi encontrado morto por ordem da FRELIMO, enquanto Daniel fugiu, conseguindo alcançar Portugal. Um infiltrado da FRELIMO de nome Inácio Chonzi também disse que Daniel fora encontrado morto em Portugal no quarto onde vivia com a sua amante de nome Mabruque, natural da Etiópia.
Este caso dos três desertores do Exército Português constituiu um dos motivos mais importantes que me fizeram abandonar a FRELIMO. O segundo motivo surgiu com a morte de Armando Tivane, meu adjunto.
(Excertos de livro a publicar por um ex-comandante da Frelimo)
Ovar, 19 de Janeiro de 2010
Álvaro Teixeira (GE)