CANAL DE OPINIÃO por Noé Nhantumbo
Tragam os “libertadores” à mesa e que se expliquem…
Alas se digladiando e o povo sucumbindo…
Algumas das causas da crise actual no País remontam dos tempos em que se combatia contra o colonialismo português.
Aquela intolerância quase sempre característica de uma liderança que não admitia concorrência ou pontos de vista contrários aos seus evidencia-se os dias de hoje.
Quando se fala de caldo entornado ou se entornando refere-se ao facto de que o diálogo supostamente destinado a produzir consensos apaziguadores e um ambiente de confiança entre as partes desavindas.
Se hoje aparece a Renamo contra a Frelimo antes a oposição era dentro da mesma Frelimo e um tratamento de choque radical foi a escolha de ala contra a outra. Assassinatos políticos caracterizaram os primórdios da independência sob a justificação de que se travava de contra-revolucionários que estavam atentando contra os interesses dos moçambicanos, foram chamados de traidores e sem direito a julgamento foram mortos.
Agora que a propalada revolução “morreu de morte morta” onde estão os revolucionários e os contra-revolucionários?
Se temos alas goesas, guebusinas, chissanista dentro da Frelimo quem põe o “guizo ao gato”?
Andaram dizendo tanto para neste momento estarmos no fundo do poço do capitalismo selvagem? Como explicar que se tenha promovido tanta intolerância que levou ao extermínio de “camaradas”?
Não se pode questionar a necessidade de obediência a critérios no processo de uma política e militar desigual e dependente de altos níveis de inteligência e secretismo operacional.
Não se pode recusar que “a revolução defende-se”. Mas onde sempre esteve tal revolução? O mecanicismo socialista ou revolucionário proposto e imposto era a tal revolução que visava criar o “homem novo”?
Tudo indica que o combate visava uma bandeira diferente mas que seus líderes estavam mais inclinados em replicar o modelo de vida das elites “revolucionárias” soviéticas e chinesas. Uma classe de funcionários do partido obedecendo as instruções e orientações de uma liderança quase não humana, infalível deveria assegurar através do trabalho demilhões de pessoas que os especiais e eleitos tivessem todos os dias caviar e champanhe.
Negar este sistema era motivo suficiente para ser detido, preso, interrogado e deportado para campos chamados de reeducação. Alguns altos representantes da “linha revolucionária” triunfante ainda manifestam pesar por não existirem mais campos de reeducação e Moçambique.
Esta é a realidade moçambicana. Uns querendo sempre se impor a maioria em nome e com base na sua participação na luta armada de libertação nacional e outros tendo que se resignar à sorte de cidadãos de segunda.
Agora que se lançou uma ofensiva contra parte daqueles que se declaravam guardiões da revolução, a “famigerada” ala de Goa muitos se admiram da desfaçatez de ex-camaradas. Mas na essência é a roda da história de um movimento político que cresceu cultivando a intolerância.
Nestes dias em que se agudizam sinais de uma tentativa de reinstalação de uma atmosfera ditatorial e de eliminação da oposição só pudemos falar de um recuo real de tudo que parecia alcançado e assegurado.
Tratar as questões por fases, primeiro inviabilizar a Renamo e depois lidar com o MDM pode ser a estratégia eleita.
Combinar a obediência a uma liderança que soube eliminar silenciosamente a oposição interna no partido e tomar contra dos instrumentos económicos e financeiros está seguido à risca.
Sejamos coerentes e encontraremos algumas verdades que não nos querem dizer. O congresso de Pemba foi crucial para obliterar a oposição no seio da Frelimo. Quando os “históricos” são relegados a peças de museu e não lhes é permitido pronunciarem--se é indicativo inequívoco de um assalto ao poder com todas as suas consequências.
Não sejamos cegos nem surdos num momento grave da história nacional.
Moçambique pode descambar para uma ditadura sanguinolenta a qualquer momento.
É da responsabilidade de todos alguma coisa fazer para travar gente com apetites devoradores.
Não se pode um dia que seja na denúncia de atitudes e procedimentos contrários a conivência democrática pois esta é a única que pode garantir a paz, estabilidade e desenvolvimento em Moçambique.
O jogo da constitucionalidade é praticado pelos que se querem perpetuar no poder.
Aí esgrimem todos os trunfos e recusam qualquer cedência.
A paridade não é nenhum diabo que vai interromper o tal apregoado desenvolvimento, pelo contrário.
O que não foi resolvido a contento aquando do AGP pode muito bem ser corrigido com frontalidade, abertura e sobretudo sem subterfúgios.
Nunca é tarde para defendermos nosso País e seu povo das garras dos abutres…
(Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 29.10.2013
Para quem leu atentamente este Acordo, poderá chegar às seguintes conclusões:
1 – Portugal deu cobertura e o apoio logístico para as maiores barbaridades cometidas pela Frelimo, para conquistar um poder que não tinha implantação no terreno nem nas cidades do País;
2 – A perseguição encetada pela Frelimo aos seus opositores foi apoiada pelo MFA, que, por sua vez prendeu militares portugueses que, sem qualquer culpa, se viram envolvidos em lutas entre fações rivais da sociedade moçambicana (Ex. Capitão Luís Fernandes);
3 – Os aviões das FAP serviram para o transporte para os famigerados “Campos de Reeducação” de todo o tipo de pessoas que não serviriam para os seus interesses;
4 – Os militares portugueses colaboraram na prisão de patriotas moçambicanos que, embora lutassem politicamente pela independência de Moçambique, não se reviam no projeto da Frelimo;
5 – À Frelimo foi concedido todo o poder para aprisionar os seus opositores políticos e transportá-los para Nashingwea (Tanzânia), onde foram julgados sem qualquer hipótese de defesa em simulacros de tribunais, obrigados a confessarem crimes que nunca cometeram e queimados vivos em valas comuns, depois de terem passado os tratamentos mais atrozes no Campo de Concentração de Metelela (Niassa);
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