Localização do Fúdze
Uma vez chegado ao Fúdze, cerca de 30 quilómetros acima de Vila Gouveia (Catandica), no início de Outubro de 1973, a vida, naquela zona ainda vivia uma certa acalmia, em termos militares, porque essa nova frente de Guerra ainda era recente. Esse mês de Outubro serviu mais para um conhecimento do terreno de operações e verificação dos estragos provocados pela avalanche dos postos avançados da Frelimo que, como referi, em artigos anteriores, eram constituídos pelos verdadeiros terroristas, com massacres de populações, raptos das mulheres mais jovens, assassínios de moçambicanos que não aderiam à Frelimo, destruição de cantinas e de outros meios de actividade económica, roubos de meios de subsistência, nomeadamente, de gado bovino, o que resultou na fuga das populações para zonas mais seguras, como os aldeamentos junto à estrada do Vandúzi-Tete.
O aldeamento do Fúdze ainda estava em construção, mas já tinha uma população considerável que, de acordo com as informações dos seus habitantes se sentia mais segura, dada a nossa presença militar e o grau de confiança aumentou, ainda mais, com a presença do Grupo Especial por ser constituído, essencialmente, por militares daquela zona.
Dentro do plano de reconhecimento da zona envolvente, a minha primeira saída foi ao aldeamento de Pandira de onde eram naturais três militares do GE, o Vitorino, o Taculera e um outro, de cujo nome já não me recordo. Fomos muito bem recebidos pela população, com um imenso carinho e, passado pouco tempo, já havia cabritos assados na brasa, servidos numa mesa colectiva e que deu para estreitar o relacionamento com a população. Este aldeamento era protegido por milícias, os chamados “cipaios”, equipados com as velhinhas espingardas Mauser. Ouvi muitas histórias de terrorismo que coincidiam com aquilo que já sabia e que me tinham sido contadas pelos militares, durante o período de instrução, no Dondo. Foi aí, em Pandira, que soube do que se passou com a Cantina e Serração do Adriano Jorge, com a morte dos proprietários e dos seus empregados. A situação despertou-me a curiosidade de conhecer o local e dos resultados do “terrorismo” frelimista.
Em Pandira, a noite começou com uma grande fogueira, com todos, o GE e a população, sentados à sua volta e, cada um com um, com um bocado de ramo de árvore e pedaço de carne espetado na ponta, lá íamos comendo. Foi um verdadeiro manjar.
A noite passou rápida, o sono não era muito, porque a curiosidade do dia seguinte superava-o. O dia nasceu cedo e, após um pequeno-almoço rápido, saímos de Pandira, pela picada da Macossa, com alguns elementos da população que teimaram em acompanhar-nos, e, passados poucos quilómetros deparei-me com a situação que fora alvo do terror da Frelimo. Um edifício grande, cuja cor inicial seria branca, mas quase todo ele manchado de preto, devido ao fogo do terrorismo. Acerquei-me do edifício e verifiquei os inúmeros buracos provocados pelos projécteis nas paredes, entrei e tudo estava queimado. O cheiro pestilento da morte estava por todo o lado. Deve ter sido algo de horrível. Fiquei petrificado e reparei que algumas pessoas choravam a morte de familiares seus naquele lugar do Inferno provocado pela Frelimo e entoaram alguns cânticos fúnebres em memória dos que ali foram assassinados.
Foi o meu primeiro grande choque.
Já estava mesmo no Inferno, mas o pior ainda estava para vir.
(Continua…)
Ovar, 3 Outubro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Caros Amigos,
Criei este Blog no intuito de dar conhecimento das minhas opiniões relativamente à minha participação na Guerra Colonial, quer na Tropa Normal, quer como Combatente integrado nos Grupos Especiais (GE´s), em Moçambique, no período de Outubro de 1972 a Maio de 1974.
Tive conhecimento, há poucos dias, de que tem havido alguns encontros de ex-GE´s, mas, por desconhecimento, ainda não participei em nenhum.
Vou colocar um post com um pequeno resumo da minha vida militar, mas, antes disso, quero revelar os m/ contactos:
Álvaro Teixeira de Oliveira
tel: 256597260
tlm: 960491057
Este Blog está aberto à participação de todos os que, independentemente das suas convicções políticas ou religiosas, residentes em em Portugal ou no estrangeiro, tenham vivido a experiência da Guerra Colonial, em Moçambique a partir de 1972 e no período pós 25 de Abril de 1974.
Os testemunhos recolhidos e outro material, como fotografias, irão ser tratados tendo em vista a publicação de um livro, quando a quantidade e a análise dos testemunhos assim o justificar.
Não haverá qualquer tipo de censura e os artigos e fotos de interesse referirão, sempre, os seus autores.
Para enviar os documentos, poderão utilizar os seguintes endereços:
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Vamos trabalhar juntos.
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