Segunda-feira, 5 de Maio de 2014
Caros amigos,
Peço desculpa aos seguidores do meu BLOG por este não ter sido actualizado, conforme pretendia, mas essa situação deve-se ao facto de ter tido problemas de saúde, que me têm impedido de estar em contacto convosco.
Penso voltar em breve.
Um abraço para todos
Ovar, 5 de Maio de 2014
Álvaro Teixeira
Quarta-feira, 21 de Abril de 2010
CONFRATERNIZAÇÃO DOS COMBATENTES GE´s e GEP´s
No Próximo dia 8 de Maio de 2010 vai realizar-se mais uma confraternização dos nossos combatentes GE´s e GEP´s, em Fátima.
Como no ano anterior, a concentração inicia-se junto à Capelinha das Aparições, onde se poderá assistir à missa do dia, e o almoço terá lugar no Hotel Santo Amaro, em Fátima.
Pede-se a confirmação da presença dos Combatentes e do número de pessoas para o mail: ge.gep@hotmail.com
Vamos comparecer em força e trocar experiências. Todos contam e cada presença é um prazer.
Ovar, 21 de Abril de 2010
Álvaro Teixeira (GE)
Quarta-feira, 10 de Março de 2010
(…/)
Avançamos no terreno, um pequeno planalto, até que encontramos um local, aparentemente seguro, para descansarmos. O local era constituído por algumas palhotas abandonadas e cercadas de vegetação pouco densa, o que constituía um óptimo local para descansar e montar a segurança. A floresta mais densa situava-se e mais de cem metros de distância. Do meu ponto de vista, era o local ideal para passar a noite. Marquei o meu local de dormida e, juntamente comigo, iria ficar o guia que nos havia sido entregue pela PIDE. À entrada da palhota que escolhi, coloquei o Vitorino com a sua HK21 e o Taculera, com o morteiro 60.
A palhota não era nada confortável, dava a quantidade de bicharada que a infestava. Foi uma noite de vigília, dado que não consegui pegar sono.
No dia seguinte, cerca das quatro e meia da madrugada, sem que nada o pudesse prever, surge um ataque da Frelimo e o local onde me encontrava era constantemente varrido por rajadas de metralhadora. Ao verificar que dentro da palhota nada poderia fazer, rastejei até à entrada, onde o Vitorino já disparava rajadas de metralhadora, mas o Taculera não conseguia manejar o morteiro, dado encontrar-se mais desabrigado. Pedi ao Taculera para me atirar o morteiro e as munições. Comecei então a disparar para o local de onde vinha o ataque. Os disparam começaram a amainar, até que se calaram.
Mandei, de imediato reunir o GE, a fim de deixar o local e avançarmos para a parte mais densa da floresta. Fiquei consciente de que a base se situava nas imediações, portanto, bastante perto.
Depois de todo o dispositivo preparado e, de acordo com as indicações do guia, começamos a avançar, já não em fila indiano, mas, em linha, a fim de conseguirmos abranger uma maior área de terreno. Com todas as precauções, avançamos, entramos na parte mais densa da floresta e parecia que nada nos incomodava, mas a concentração era total, com o GE dividido por três comandos, o da direita, comandado pelo Adão, o da esquerda, pelo Vasco e eu no meio, mas sem perder de vista quem quer que fosse. Continuamos a avançar, abrigados pelas árvores da floresta que, no início era bastante densa e permitia uma boa progressão, mas passadas umas boas dezenas de metros, tornava-se muito menos densa e com o capim muito rasteiro. O único avanço possível era a rastejar e abrigar-nos de árvore em árvore.
Passado pouco tempo, surge-nos uma barreira de fogo do inimigo, de tal modo forte que nos impediu a progressão. Já não havia capim e estávamos ali expostos ao fogo do inimigo. Seriam cerca das seis horas da manhã. A barreira de fogo era tão grande que dei ordens para disparar só com alvos à vista, para não gastar munições que, mais tarde, nos poderiam ser preciosas. Ali estivemos debaixo de fogo contínuo, que não deixava avançar um centímetro que fosse. E para estupefacção minha, a quantidade de fogo continuava a aumentar, com um potencial que nunca imaginei e que ameaçava cercar todo o Grupo.
Apercebi-me do perigo que a situação representava e, cerca das nove horas, pedi apoio aéreo para a situação e porque tinha a noção que estava mesmo em cima da base. A resposta foi de que deveria segurar a posição, porque o Comando de Operações, iria assegurar a logística. Lá continuamos no local, sem poder avançar fosse o que fosse, mas a minhas eram ordens eram rígidas e bem precisas, gastar o menos possível de munições e fiquei a aguardar o apoio aéreo solicitado, dado saber que, no aeroporto de Tete, estavam estacionados alguns aviões Fiat.
Dentro do possível, aguentei a posição, à espera de novidades.
Cerca da uma hora da tarde, recebo ordens para abortar a operação, porque não era possível o apoio aéreo. Foi pior a emenda do que o soneto. O Grupo estava, quase completamente cercado e uma retirada, naquelas condições, seria extremamente perigosa, por podermos ser alvo de perseguição por parte do inimigo que me parecia reunir guerrilheiros em número suficiente para o fazer. Era necessária a inteligência e o sangue frio. Pensei, por uns momentos, na forma de fazer a retirada sem perseguições. Resolvi, então, dar ordens de fogo intenso sobre o inimigo, enquanto, com dois operadores de morteiro, retirei para o local onde tinha estado acampado, não, sem, antes disso, ter dado ordens ao Adão e ao Vasco, para recuarem os respectivos pelotões, quando as granadas de morteiro começassem a explodir. Recuei algumas centenas de metros com os dois morteiros e uma HK21. Aí comecei a disparar os morteiros e o fogo do inimigo começou a diminuir e a afastar-se, foi então que começaram a aparecer no local onde eu estava os pelotões do Adão e do Vasco. Entretanto, com eles veio mais um morteiro e os disparos a aumentarem. Passado algum tempo, mandei disparar as metralhadoras HK21 e os tiros do inimigo começaram a acabar, até ao silêncio total.
Depois de todos reunidos, avançamos para uma encosta dominante, comemos a ração de combate e encetamos a regresso ao acampamento.
(/…)
Ovar, 10 de Março de 2010
Álvaro Teixeira (GE)
Sábado, 3 de Outubro de 2009
Localização do Fúdze
Uma vez chegado ao Fúdze, cerca de 30 quilómetros acima de Vila Gouveia (Catandica), no início de Outubro de 1973, a vida, naquela zona ainda vivia uma certa acalmia, em termos militares, porque essa nova frente de Guerra ainda era recente. Esse mês de Outubro serviu mais para um conhecimento do terreno de operações e verificação dos estragos provocados pela avalanche dos postos avançados da Frelimo que, como referi, em artigos anteriores, eram constituídos pelos verdadeiros terroristas, com massacres de populações, raptos das mulheres mais jovens, assassínios de moçambicanos que não aderiam à Frelimo, destruição de cantinas e de outros meios de actividade económica, roubos de meios de subsistência, nomeadamente, de gado bovino, o que resultou na fuga das populações para zonas mais seguras, como os aldeamentos junto à estrada do Vandúzi-Tete.
O aldeamento do Fúdze ainda estava em construção, mas já tinha uma população considerável que, de acordo com as informações dos seus habitantes se sentia mais segura, dada a nossa presença militar e o grau de confiança aumentou, ainda mais, com a presença do Grupo Especial por ser constituído, essencialmente, por militares daquela zona.
Dentro do plano de reconhecimento da zona envolvente, a minha primeira saída foi ao aldeamento de Pandira de onde eram naturais três militares do GE, o Vitorino, o Taculera e um outro, de cujo nome já não me recordo. Fomos muito bem recebidos pela população, com um imenso carinho e, passado pouco tempo, já havia cabritos assados na brasa, servidos numa mesa colectiva e que deu para estreitar o relacionamento com a população. Este aldeamento era protegido por milícias, os chamados “cipaios”, equipados com as velhinhas espingardas Mauser. Ouvi muitas histórias de terrorismo que coincidiam com aquilo que já sabia e que me tinham sido contadas pelos militares, durante o período de instrução, no Dondo. Foi aí, em Pandira, que soube do que se passou com a Cantina e Serração do Adriano Jorge, com a morte dos proprietários e dos seus empregados. A situação despertou-me a curiosidade de conhecer o local e dos resultados do “terrorismo” frelimista.
Em Pandira, a noite começou com uma grande fogueira, com todos, o GE e a população, sentados à sua volta e, cada um com um, com um bocado de ramo de árvore e pedaço de carne espetado na ponta, lá íamos comendo. Foi um verdadeiro manjar.
A noite passou rápida, o sono não era muito, porque a curiosidade do dia seguinte superava-o. O dia nasceu cedo e, após um pequeno-almoço rápido, saímos de Pandira, pela picada da Macossa, com alguns elementos da população que teimaram em acompanhar-nos, e, passados poucos quilómetros deparei-me com a situação que fora alvo do terror da Frelimo. Um edifício grande, cuja cor inicial seria branca, mas quase todo ele manchado de preto, devido ao fogo do terrorismo. Acerquei-me do edifício e verifiquei os inúmeros buracos provocados pelos projécteis nas paredes, entrei e tudo estava queimado. O cheiro pestilento da morte estava por todo o lado. Deve ter sido algo de horrível. Fiquei petrificado e reparei que algumas pessoas choravam a morte de familiares seus naquele lugar do Inferno provocado pela Frelimo e entoaram alguns cânticos fúnebres em memória dos que ali foram assassinados.
Foi o meu primeiro grande choque.
Já estava mesmo no Inferno, mas o pior ainda estava para vir.
(Continua…)
Ovar, 3 Outubro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Quinta-feira, 24 de Setembro de 2009
(… Continuação)
E, assim, chegamos ao fim da instrução dos Grupos Especiais. Todos os dias partiam vários Grupos para os respectivos Teatros de Guerra, até que chegou a vez de o meu Grupo partir para o Fúdze. Não fazia a mínima ideia onde era isso. A única informação que possuía é que era para norte de Vila Gouveia (Catandica), na entrada da picada para a Macossa. Subimos para as Berliets e iniciamos a saída. Para trás começaram a ficar as noitadas e os fins-de-semana na belíssima cidade da Beira e o Dondo, uma pequena vila de que aprendi a gostar e o meu restaurante preferido, o Garrafão. Para trás ficou, também, a minha “pretinha” que foi, propositadamente ao CIGE, para se despedir de mim. Choramos os dois, uma cena que perdurará, para sempre na minha vida. No dia anterior já me tinha despedido da May Lung, a minha “chinoquinha” da Beira, uma miúda adorável e cuja paixão era mútua, mas este aspecto ficará para artigos posteriores.
A minha primeira farda de GE
Começamos a passar os canaviais da Açucareira de Mafambisse e recordei-me do que, uns meses antes, lá se tinha passado. Na véspera de um fim-de-semana, haviam procedido a uma desratização dos canaviais. Era habitual os recrutas, durante os dias de descanso, irem dar uma volta pelos canaviais para caçar ratos que, segundo eles, era um petisco, mas nesse fim-de-semana, os ratos tinham sido envenenados e o resultado foi trágico: várias mortes de recrutas, por envenenamento e outros que, por assistência imediata ou por intoxicação menor, conseguiram escapar. Do meu GE não morreu ninguém, porque, por felicidade, estavam de serviço nesse fatídico fim-de-semana.
Deixamos para trás Vila Machado e fizemos uma paragem, para descanso, em Vila Pery (Chimoio).
No dia seguinte, de manhã cedo, partimos para a segunda e última etapa, passamos o Vandúzi, atravessamos a ponte sobre o Púnguè e, a partir daí, foi começar a subir para Vila Gouveia (Catandica), onde voltamos a fazer uma pequena paragem, só para reabastecimento e logo de seguida, encetamos o percurso de cerca de 30 quilómetros até ao Fúdze.
Num momento de descontracção
Lá chegados, foi uma decepção. O Aquartelamento era, quase todo ele, constituído por tendas de lona e foram montadas outras para o GE.
Eu instalei-me numa cantina abandonada, com um cheiro nauseabundo, onde só se conseguia dormir com rede mosquiteira e com as janelas todas abertas.
Foi o início da minha “Descida ao Inferno”…
Ovar, 24 de Setembro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Sexta-feira, 27 de Março de 2009
Assentei praça no R.I. 5 (Caldas da Rainha) em 5/01/1972. Durante a recruta, fui chamado para prestar provas para o Curso de Oficiais, mas, por motivos políticos, recusei-me a prestar essas provas, porque a primeira prova tinha a ver com questões morais (nomeadamente, saber qual a nossa posição sobre a guerra) e, como pertencia à LUAR e tinha tido problemas com a PIDE, se fosse dizer quais eram as minhas ideias, agravaria a minha situação.
Atribuiram-me a especialidade de Atirador e fui para Tavira até ao fim de Junho de 1972.
Acabada a especialidade, fui dar instrução para o CICA 2 (Figueira da Foz) e, em Agosto fui mobilizado para Moçambique (B. Caç. 18), para onde embarquei em 6/10/1972.
Apresentei-me no B. Caç. 16 (Beira) e, em vez de ir para o B. Caç. 18 (Lourenço Marques), deram-me Guia de Marcha para a 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20, que estava estacionada no extremo norte do Niassa, mais propriamente, em Olivença.
Estive lá até meados de Abril de 1973. Nunca dei ou ouvi qualquer tiro, porque nem nós atacávamos a FRELIMO nem eles nos atacavam a nós. Era como se houvesse um pacto de não agressão mútua. As "baldas" às operações eram muitas, pelo que vivi, sempre em paz.
Em Abril de 1973, foi a Olivença o General Alberty Correia, Secretário de Estado do Exército e, na sequência dessa visita, fui mobilizado para os GE´s, para integrar a "Operação Furacão" congeminada pelo Gen. Kaulza de Arriaga.
Na preparação dos Grupos passaram-se cenas caricatas, que irei descrever em próximos "post´s".
Olivença - Niassa - Moçambique
CARTA MILITAR
No início de Outubro de 1973, fui com o GE 914 para o Fúdeze, entre Vila Gouveia e o Guro, na entrada da picada para a Macossa.
A nossa actividade consistia em operações na Serra Choa e no patrulhamento da estrada para Tete, entre Nhampassa e Nhassacara.
Na Serra Choa as operações eram muito complicadas, sofríamos muitas emboscadas e flagelações, mas nunca conseguíamos atingir os alvos, porque a floresta era muito densa e os guias enganavam-nos facilmente.
Em 20/01/1974, desloquei-me à Beira, a fim de ser sujeito a uma pequena intervenção cirúrgica no Hospital Rainha D. Amélia que ficou marcada para o dia 24.
Passei a noite com a minha namorada "chinoca" (Ai que saudades!) e às 06 horas fui à messe vestir uns calções, para dar um mergulho na praia. Quando atravessava a avenida, apareceu-me um Unimog, fora de mão, e só acordei 5 dias depois no Hospital Militar de Lourenço Marques, todo cheio de gesso e de ligaduras.
Passados 2 ou 3 dias, fui informado que tinha sido graduado em Alferes, a fim de ir comandar um GE na zona de Tete, porque o Alferes que o comandava tinha passado à disponibilidade.
É claro que nunca fui para lá, porque tinha diversas fracturas e que demorariam meses a tratar.
Em 10/05/1974, vim evacuado para o Hospital Militar da Estrela, onde fui operado ao braço esquerdo, em Julho.
Passei os tempos revolucionários em Lisboa e, encontrava-me, muitas vezes no Café Nicola, no Rossio, com os meus grandes e saudosos amigos Palma Inácio e Fernando Oneto.
Em 24 de Setembro de 1975 passei à disponibilidade e retomei a minha actividade profissional.
Em 2005 foi-me diagnosticado o "stress de guerra", mas estou a ser acompanhado, pelo que, raramente, entro em depressão.
Sobre a minha vida pós guerra, darei conta em "post´s" posteriores.