Assentei praça no R.I. 5 (Caldas da Rainha) em 5/01/1972. Durante a recruta, fui chamado para prestar provas para o Curso de Oficiais, mas, por motivos políticos, recusei-me a prestar essas provas, porque a primeira prova tinha a ver com questões morais (nomeadamente, saber qual a nossa posição sobre a guerra) e, como pertencia à LUAR e tinha tido problemas com a PIDE, se fosse dizer quais eram as minhas ideias, agravaria a minha situação.
Atribuiram-me a especialidade de Atirador e fui para Tavira até ao fim de Junho de 1972.
Acabada a especialidade, fui dar instrução para o CICA 2 (Figueira da Foz) e, em Agosto fui mobilizado para Moçambique (B. Caç. 18), para onde embarquei em 6/10/1972.
Apresentei-me no B. Caç. 16 (Beira) e, em vez de ir para o B. Caç. 18 (Lourenço Marques), deram-me Guia de Marcha para a 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20, que estava estacionada no extremo norte do Niassa, mais propriamente, em Olivença.
Estive lá até meados de Abril de 1973. Nunca dei ou ouvi qualquer tiro, porque nem nós atacávamos a FRELIMO nem eles nos atacavam a nós. Era como se houvesse um pacto de não agressão mútua. As "baldas" às operações eram muitas, pelo que vivi, sempre em paz.
Em Abril de 1973, foi a Olivença o General Alberty Correia, Secretário de Estado do Exército e, na sequência dessa visita, fui mobilizado para os GE´s, para integrar a "Operação Furacão" congeminada pelo Gen. Kaulza de Arriaga.
Na preparação dos Grupos passaram-se cenas caricatas, que irei descrever em próximos "post´s".
Olivença - Niassa - Moçambique
CARTA MILITAR
No início de Outubro de 1973, fui com o GE 914 para o Fúdeze, entre Vila Gouveia e o Guro, na entrada da picada para a Macossa.
A nossa actividade consistia em operações na Serra Choa e no patrulhamento da estrada para Tete, entre Nhampassa e Nhassacara.
Na Serra Choa as operações eram muito complicadas, sofríamos muitas emboscadas e flagelações, mas nunca conseguíamos atingir os alvos, porque a floresta era muito densa e os guias enganavam-nos facilmente.
Em 20/01/1974, desloquei-me à Beira, a fim de ser sujeito a uma pequena intervenção cirúrgica no Hospital Rainha D. Amélia que ficou marcada para o dia 24.
Passei a noite com a minha namorada "chinoca" (Ai que saudades!) e às 06 horas fui à messe vestir uns calções, para dar um mergulho na praia. Quando atravessava a avenida, apareceu-me um Unimog, fora de mão, e só acordei 5 dias depois no Hospital Militar de Lourenço Marques, todo cheio de gesso e de ligaduras.
Passados 2 ou 3 dias, fui informado que tinha sido graduado em Alferes, a fim de ir comandar um GE na zona de Tete, porque o Alferes que o comandava tinha passado à disponibilidade.
É claro que nunca fui para lá, porque tinha diversas fracturas e que demorariam meses a tratar.
Em 10/05/1974, vim evacuado para o Hospital Militar da Estrela, onde fui operado ao braço esquerdo, em Julho.
Passei os tempos revolucionários em Lisboa e, encontrava-me, muitas vezes no Café Nicola, no Rossio, com os meus grandes e saudosos amigos Palma Inácio e Fernando Oneto.
Em 24 de Setembro de 1975 passei à disponibilidade e retomei a minha actividade profissional.
Em 2005 foi-me diagnosticado o "stress de guerra", mas estou a ser acompanhado, pelo que, raramente, entro em depressão.
Sobre a minha vida pós guerra, darei conta em "post´s" posteriores.
Combatentes de Guerra do Ultramar
Futebol de Causas (Manifestação Académica - Final da Taça 1969 - vídeo)