Quinta-feira, 27 de Maio de 2010

NASCHINGWEA – O FUTURO ESTÁ A MEXER

 

Naschingwea está intrinsecamente ligada à guerra de libertação de Moçambique, tanto como campo de treino da Frelimo, na sua guerra de libertação, como aos maiores crimes cometidos após o dia 25 de Abril de 1974.

Aquilo que foi um campo de treino militar dos guerrilheiros da Frelimo com todas as suas  envolventes, de que já falei em posts anteriores, como a escravidão, a prostituição, os castigos morais e materiais e materiais, tornou-se, após 25 de Abril de 1974, no maior campo da vergonha daquilo que foram pretensos julgamentos de patriotas moçambicanos, que lutaram pela libertação do seu povo do jugo colonialista e que ali, antes que Moçambique se tornasse independente de facto foram sujeitos às maiores sevícias. Estes patriotas foram julgados pelo acusador e pelo juiz (Frelimo), sem direito a qualquer defesa, porque não havia, ainda tribunais constituídos, dado que Portugal ainda era a potência soberana, pelo que as leis seriam as da República Portuguesa, mas o conluio entre o MFA e a Frelimo permitiu que esses atentados contra os direitos humanos fossem cometidos. Uria Simango, Drª. Joana Simeão, Paulo Gumane, Mateus Gwengere, Pedro Mondlane, Lázaro Kavandame, Júlio Razão e muitos outros por ali passaram e todos foram condenados à reeducação nos Campos de Metelela, Bilibiza, Lupilichi e tantos outros, onde foram exterminados e enterrados em valas comuns.

 

Uma farsa dos julgamentos de Nashingwea
Uria Simango e Mateus Gwengere obrigados a confessar crimes que não cometeram, perante Marcelino dos Santos e Samora Machel

 

Por estas sevícias, também passaram muitos portugueses nas prisões da Beira e Lourenço Marques, como o capitão GEP Luís Fernandes , cujo martírio é bem conhecido e fruto do referido conluio entre o MFA e a Frelimo.

 

 

Prisioneiros da Frelimo em Nashingwea

 

Tal como referi acima, há milhares de patriotas moçambicanos cuja memória deverá ser reabilitada e que jazem em valas comuns no Niassa, em Cabo Delgado e na Zambézia sem que o partido no poder (Frelimo) esteja interessado em fazer esse trabalho, pensando que a memória dos povos é curta e que este assunto irá cair no esquecimento. Mas assassinos como Armando Guebuza, Sérgio Vieira, Marcelino dos Santos, Joaquim Chissano, Matsinhe, Thimba, Alberto Chipande, Sebastião Mabote, Joaquim Chissano, Graça Machel e tantos outros, que agora se passeiam nas cidades de Moçambique em automóveis de topo de gama, enquanto o povo continua na miséria, terão que ser julgados e responder pelos seus crimes.

 

 

Os "Campos de Extermínio ou Campos da Vergonha"

 

Os crimes contra a humanidade não prescrevem e este Blog saúda o aparecimento da Associação que pretende reabilitar a memória dos patriotas assassinados pela Frelimo e coloca-se, desde já, ao dispor da referida Associação para colaborar em tudo o que lhe for possível.

Vamos para a frente, porque o futuro é possível.

 

Ovar, 27 de Maio de 2010

Álvaro Teixeira (GE)   


Publicado por gruposespeciais às 23:13
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Sábado, 26 de Dezembro de 2009

Portugal - País de homens sem HONRA e sem Vergonha que nunca julgou Rosa Coutinho e outros seus iguais.

 

 

 

 
domingo, 13 de Abril de 2008
Angola é nossa!
'Holocausto em Angola' não é um livro de história. É um testemunho. O seu autor viu tudo, soube de tudo

Só hoje me chegou às mãos um livro editado em 2007, Holocausto em Angola, da autoria de Américo Cardoso Botelho (Edições Vega). O subtítulo diz: 'Memórias de entre o cárcere e o cemitério'. O livro é surpreendente. Chocante. Para mim, foi. E creio que o será para toda a gente, mesmo os que 'já sabiam'. Só o não será para os que sempre souberam tudo. O autor foi funcionário da Diamang, tendo chegado a Angola a 9 de Novembro de 1975, dois dias antes da proclamação da independência pelo MPLA. Passou três anos na cadeia, entre 1977 e 1980. Nunca foi julgado ou condenado. Aproveitou o papel dos maços de tabaco para tomar notas e escrever as memórias, que agora edita. Não é um livro de história, nem de análise política. É um testemunho. Ele viu tudo, soube de tudo. O que ali se lê é repugnante. Os assassínios, as prisões e a tortura que se praticaram até à independência, com a conivência, a cumplicidade, a ajuda e o incitamento das autoridades portuguesas. E os massacres, as torturas, as exacções e os assassinatos que se cometeram após a independência e que antecederam a guerra civil que viria a durar mais de vinte anos, fazendo centenas de milhares de mortos. O livro, de extensas 600 páginas, não pode ser resumido. Mas sobre ele algo se pode dizer.
O horror em Angola começou ainda durante a presença portuguesa. Em 1975, meses antes da independência, já se faziam 'julgamentos populares', perante a passividade das autoridades. Num caso relatado pelo autor, eram milhares os espectadores reunidos num estádio de futebol. Sete pessoas foram acusadas de crimes e traições, sumariamente julgadas, condenadas e executadas a tiro diante de toda a gente. As forças militares portuguesas e os serviços de ordem e segurança estavam ausentes. Ou presentes como espectadores.

A impotência ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que fizeram as autoridades portuguesas durante a transição foi crime de traição e crime contra a humanidade. O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: 'Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela'.

Estes gestos das autoridades portuguesas deixaram semente. Anos depois, aquando dos golpes e contragolpes de 27 de Maio de 1977 (em que foram assassinados e executados sem julgamento milhares de pessoas, entre os quais os mais conhecidos Nito Alves e a portuguesa e comunista Sita Valles), alguns portugueses encontravam-se ameaçados. Um deles era Manuel  Ennes Ferreira, economista e professor. Tendo-lhe sido assegurada, pelas autoridades portuguesas, a protecção de que tanto necessitava, dirigiu-se à Embaixada de Portugal em Luanda. Aqui, foi informado de que o vice-cônsul tinha acabado de falar com o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Estaria assim garantido um contacto com o Presidente da República. Tudo parecia em ordem. Pouco depois, foi conduzido de carro à Presidência da República, de onde transitou directamente para a cadeia, na qual foi interrogado e torturado vezes sem fim. Américo Botelho conheceu-o na prisão e viu o estado em que se encontrava cada vez que era interrogado.

Muitos dos responsáveis pelos interrogatórios, pela tortura e pelos massacres angolanos foram, por sua vez, torturados e assassinados. Muitos outros estão hoje vivos e ocupam cargos importantes. Os seus nomes aparecem frequentemente citados, tanto lá como cá. Eles são políticos democráticos aceites pela comunidade internacional. Gestores de grandes empresas com investimentos crescentes em Portugal. Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona. Este livro é, em certo sentido, desmoralizador. Confirma o que se sabia: que a esquerda perdoa o terror, desde que cometido em seu nome. Que a esquerda é capaz de tudo, da tortura e do assassinato, desde que ao serviço do seu poder. Que a direita perdoa tudo, desde que ganhe alguma coisa com isso. Que a direita esquece tudo, desde que os negócios floresçam. A esquerda e a direita portuguesas têm, em Angola, o seu retrato. Os portugueses, banqueiros e comerciantes, ministros e gestores, comunistas e democratas, correm hoje a Angola, onde aliás se cruzam com a melhor sociedade americana, chinesa ou francesa.

Para os portugueses, para a esquerda e para a direita, Angola sempre foi especial. Para os que dela aproveitaram e para os que lá julgavam ser possível a sociedade sem classes e os amanhãs que cantam.

Para os que lá estiveram, para os que esperavam lá ir, para os que querem lá fazer negócios e para os que imaginam que lá seja possível salvar a alma e a humanidade. Hoje, afirmado o poder em Angola e garantida a extracção de petróleo e o comércio de tudo, dos diamantes às obras públicas, todos, esquerdas e direitas, militantes e exploradores, retomaram os seus amores por Angola e preparam-se para abrir novas vias e grandes futuros. Angola é nossa! E nós? Somos de quem?
António Barreto - Sociólogo
 
 
 
 

Publicado por gruposespeciais às 15:07
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