“Nós não estamos arrependidos”
Marcelino dos Santos
Emílio Manhique, apresentador do programa “No Singular” na TV pública moçambicana (TVM), entrevistou, em 2005, o antigo membro da Frente de Libertação de Moçambique e mais tarde ministro de Samora Machel, presidente da Assembleia Popular, e membro do Bureau Político (mais tarde Comissão Política Permanente) do Comité Central do partido Frelimo marxista leninista.
Dos arquivos do «Canal de Moçambique» extraímos parte dessa entrevista relativa aos fundadores e combatentes da Luta de Libertação Nacional que defendiam um regime como o que hoje vigora em Moçambique e com a alegação de que por isso eram anti-patrióticos e “reaccionários” foram sumariamente abatidos no fim da década de 70, princípio de 80, já depois de Moçambique ser membro das Nações Unidas, sem que tenham sido observados os mais elementares princípios do Direito consagrado em sociedades civilizadas.
Emílio Manhique : “Lazaro Nkavandame, Gwenjere, Joana Simeão foram mortos depois da independência, mas a Frelimo tinha dito que iam ser reeducados, que iam servir de exemplo. Porque é que foram mortos sem sequer nenhum julgamento?”
Marcelino dos Santos: “Naturalmente... primeiro porque consideramos que era justiça.”
A MORTE DE EDUARDO MONDLANE
A MINHA OPINIÃO
Tenho consultado vária documentação sobre a forma como ocorreu o assassinado do Dr. Eduardo Mondlane e, após uma análise profunda, sobre este acontecimento, cheguei às seguintes conclusões:
Uria Simango e Eduardo Mondlane
Dar-es-Salam - 1963
1 – Ao contrário da versão que corria na época e na qual eu acreditava, não poderia ter sido a PIDE a cometer tal acto, uma vez que, da forma como tudo aconteceu, teria que haver a conivência da Ala Maoista da Frelimo com a própria PIDE. Esta ligação está fora de hipótese, dada a sua incongruência;
2 – Ter sido ordenada e organizada pelo Governo da Tanzânia é de todo inimaginável, dadas as boas relações de Mondlane com Nyerere e a Tanzânia disponibilizou todo o território para bases e centros de instrução da Frelimo e apoiava-os na logística;
3 – Intervenção da CIA, também, está fora de hipótese, uma vez que os lugares cimeiros da Frelimo estavam ocupados por pessoas com formação ocidental (Eduardo Mondlane licenciou-se em Sociologia nos EUA).
Análise da forma como ocorreu a explosão:
a) É do conhecimento público que Eduardo Mondlane tinha um escritório numa Residencial, com Restaurante, que era propriedade de uma sua amiga e ex-secretária, de nome Betty King, onde passava grande parte do seu tempo;
b) Nesse momento, cerca 09H30, só se encontravam na Estalagem duas pessoas: Eduardo Mondlane e o cozinheiro, quando a Estalagem tinha vários empregados;
c) O secretário de Mondlane era Joaquim Chissano, que acumulava com o cargo de director dos serviços de segurança da Frelimo;
d) Toda a correspondência era aberta pelo seu secretário, Joaquim Chissano, e entregue a Mondlane;
e) Porque é que, nesse dia, só estava um empregado da estalagem e o próprio Mondlane?
f) Porque é que, nesse dia, toda a correspondência foi entregue a Mondlane, sem passar pelo seu secretário?
g) Porque é que, depois do assassinato, só foram considerados como suspeitos do crime, os elementos menos radicais e com formação ocidentalizada que tiveram que fugir para outros países, devido aos riscos de morte a que estavam expostos.
h) O comandante operacional da Frelimo era, na altura, o Samora Machel que recebeu instrução militar na Argélia e formação política na China de Mao Tsé Tung e era coadjuvado por essa figura sinistra chamada Marcelino dos Santos, tendo, como mentor político uma outra figura sinistra que era o Sérgio Vieira.
Depois destas considerações e da prática da Frelimo, depois da independência, nomeadamente a construção de “aldeias comunais”, “campos de reeducação”, “campos de extermínio”, etc. práticas estas que eram cópias dos regimes maoistas da Albânia e da China, chego à conclusão que os autores do assassínio de Eduardo Mondlane foram os responsáveis que ocuparam os lugares cimeiros da Frelimo, a seguir ao assassinato, uma vez que os “moderados” se opunham à corrente Maoista encabeçada pelo Samora Machel e que integrava figuras sinistras, como Marcelino dos e Sérgio Vieira, etc. , tiveram que fugir, para não serem assassinados. Alguns deles, tais como Urias Simango (vice-presidente no tempo de Mondlane), Paulo Gumane, padre Gwengere e muitos outros vieram a ser executados no “campo de extermínio” de Metelela (ex-Nova Viseu), no Niassa.
Estes elementos conseguiram o poder dentro da Frelimo, ficando o Samora Machel com a Presidência, o Marcelino dos Santos com a vice-Presidência e, como ideólogo o Sérgio Vieira. Estava, assim, criada uma nova Frelimo, de orientação Maoista, que veio a assassinar centenas de milhares de moçambicanos nos primeiros anos pós-independência.
A China passou a apoiar, abertamente, a Frelimo, que passou a contar com guerrilheiros e atiradores especiais chineses nas suas fileiras.
Acho que, na minha modesta opinião, não são necessários mais inquéritos, porque esta será a verdade incontestável.
Links:
Nota: Acabei de ver na RTP o 14º. Episódio da GUERRA COLONIAL, da responsabilidade de Joaquim Furtado e, logo no início, verifiquei que a minha opinião sobre o assassinato de Eduardo Mondlane foi, assim, reforçada.